Você que me lê, me ajuda a nascer.

segunda-feira, julho 06, 2020

Emoções.

Eu estou aqui, tão bem. Ouvi coisas tão lindas hoje. 

À convite de uma colega de trabalho que me conhece desde quando eu era professora de crianças em 2006, fui conversar com estudantes de mestrado sobre pesquisa. Foi uma das coisas mais gostosas que já fiz nesses últimos dias. Fiquei realmente emocionada com as palavras das estudantes e cheguei a me arrepiar enquanto falava, lembrando de muitos detalhes do tempo que eu estava lá na pesquisa, com as crianças. É uma delícia ter saudade. Eu gosto de ter saudade que, para mim, não tem a ver com querer que as coisas voltem. 

Ter saudade para mim é ter uma sensação gostosa quando lembro de alguma coisa, não necessariamente querendo que ela volte a acontecer. Eu amo lembrar que morei no Grajaú em São Paulo e ia a pé para o trabalho, todos os dias, quase o mesmo caminho, passando por uma longa rua com oficinas mecânicas e padarias, residências muito parecidas com aquelas que eu vejo aqui em Salvador em Itapuã (isso porque tem pencas de gente daqui lá no Grajaú), eu sinto saudade do tempo da pesquisa do mestrado, do doutorado e me emociono porque sinto, aqui dentro, tudo de novo, quando conto como foi. 

Só que eu não quero voltar no tempo. Eu quero realmente estar onde estou aqui, agora. Escrevendo estas palavras, ouvindo minhas vizinhas crianças brincarem lá embaixo, conversando entre elas e com pessoas adultas, um cão latindo lá longe, a lua redonda, aquele silêncio de uma cidade do recôncavo baiano... sinto um prazer enorme em ser quem eu sou e estar aqui, e sinto um prazer enorme em sentir saudade. 

A gente vive muito projetando o que queremos e o que vamos fazer daqui pra frente e a gente acaba por não viver por inteiro o que é pra ser agora, a vida que temos hoje. Esperando, projetando. O que temos para aprender hoje, para sentir hoje. Eu falo a gente porque eu também faço tudo isso que vejo que não vale a pena, mas tem horas que eu respiro e paro e venho escrever aqui e penso, poxa, eu sou muito sortuda mesmo, a vida gosta de mim demais. A gente esquece de agradecer o que está sendo bom, o que nos dá confiança e paz. Agradecer as dores de cabeça também, por ter uma cabeça para doer. Agradecer à vida, eu sou tão grata. 

Um amigo me ensinou que coisa mais certa do mundo é gratidão. E eu tenho até por quem acha que me fez mal, eu sempre aprendo alguma coisa mesmo quando eu me ferro (ou eu deveria dizer que eu aprendo até mais quando me dou mal?), eu quero saber o que pode dar certo, tenho tempo a perder, mas só me conte o que me fizer sorrir. 

Por favor.

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