Indo para faculdade, aquela maresia dentro do buzu (na verdade, isso não acontece sempre. Viajar de buzu em Salvador é uma das experiências mais legais que eu passo na vida, um dia ainda vou escrever sobre isso). Mas ali entre a Pituba e Amaralina, entraram dois jovens, moça e moço, subiram as escadas começando a disparar palavras em forma de versos. Eu que tava ouvindo música e meio sonolenta parei tudo e comecei a ouvir, não apenas porque eram pessoas negras, mas porque estavam fazendo poesia falando de racismo, juventude, cabelo, essas coisas.
Comecei a me arrepiar inteira.
racismo existe sim/ e ele não tá de brincadeira, não/ ele está nas ruas, nas escolas/ aqui no ônibus e televisão/
Coisas assim. Lembrei de Rosa Parks, lembrei dos jovens do Cabula, me segurei para as lágrimas que se escoravam no canto do olho não saírem para fora e transbordarem aquele lugar, virar mar. Pediram palmas, contribuição.
Pediram, mas me deram muito mais do que eu estava preparada para receber numa viagem de buzu. Ainda me arrepio quando lembro de suas caras.
É por essas coisas todas que é tão bom estar aqui, que eu escolhi estar aqui.
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