Você que me lê, me ajuda a nascer.

sábado, março 28, 2015

Oco.

Foi aí que eu descobri que ele não tinha mais nada dentro dele, era um oco só, era um vazio imenso, uma agonia dentro dele, ele não conseguia cavar mais, pra dentro e pra fora, era sempre a mesma toada, o mesmo silêncio. Ele vinha, chegava perto, superfície, voltava pra dentro de novo, com tudo e com mais força, eu não consegui alcançar. Liso, areia, liso, poeira.
Eu, que gosto de barulho e conversa e faço silêncio depois disso tudo e do amor, fiquei sem saber se eu errei ou ele quem nunca acertou. Fiquei ali, do outro lado, telefone tocando e ele me dizendo não.
Não, mais uma vez. Eu não pude reclamar, porque sempre foi assim, e eu sempre tinha visto. Eu me aventurei por esse mar de tristeza e agonia e silêncio bem porque eu quis, porque eu achava - eu achava mesmo! - que aquele sorriso dele às vezes e quando ele falava do país que ele nunca mais viu e o olho brilhava, eu achava que isso poderia me manter de pé, do lado dele.
Mas eu comecei a fraquejar, a querer colo e dengo no meio da noite, de longe. E descobri que ele nunca me deu - "não chora pelo que tu nunca teve, fia" - ele nunca nem prometeu.  
Ele sempre foi isso mesmo, seco e oco, pouco. Pra mim. Talvez não para as que vieram antes, para as que chegarão. 
Por isso, quem precisa ir embora sou eu. 
Sem erros, sem acertos. Foi uma tentativa.
Dói nele quando me ouve dizer duro, oco, seco e dói em mim dizer. Por isso, melhor não. Melhor longe, para o amor chegar de outro jeito, para que o que eu sinto por ele - amor - não seque também.

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