Eu queria ter quatro anos hoje.
Talvez menos, nunca mais que isso.
Ter quatro anos e morrer
devagarinho, só se vive quando se é criança. O resto é mentira, lágrimas duras
e contas a pagar. Morrendo devagarinho até chegar aos dezoito, época que eu
ainda brincava de boneca e tinha um urso no lugar de um namorado.
Eu queria ter quatro anos e não
saber que existiam verdades e mentiras. Verdades que você iria preferir não
ouvir como “sua mãe já não tem a mesma coragem de antes, filha” ou “eu amo
você, mas estamos longe”.
Morrendo devagarinho nas mãos
daquela professora que dizia “senta direito”, “come tudo, de garfo e faca
agora, “não briga com o coleguinha”, “obedece sua mãe”. Queria saber se ela ia
mandar obedecer a mãe mesmo quando ela acorda num humor péssimo, como hoje.
Eu queria ter quatro anos hoje e
não mais que isso daqui a um ano, quando eu escreveria essa poesia de novo e
faria o tempo voltar outra vez.
Eu queria ter quatro anos, só
isso. Não queria saber que iam me matar, matar a criança que eu era, queria ser
de novo boba e imbecil, perdoando pessoas e emprestando lápis de cor, brigando
por amigas que nem valem a pena, indo pra casa sem minhas presilhas douradas
porque dei de presente para alguém.
Eu queria ter quatro anos, nem
precisava ser criança prodígio ou coisa do tipo, não queria saber ler nem
escrever, nomes enormes de dinossauros na ponta da língua, matemática, nada.
Queria massinha de modelar e encher a boca de bala que vira chiclete, brincar
de corda e bambolê na rua.
Quatro anos.
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