Vozes-Mulheres
(EVARISTO, Conceição. 2008. Poemas da recordação e outros movimentos. Belo Horizonte: Nandyala, 2008)
A voz de
minha avó ecoou criança nos porões do navio.
Ecoou
lamentos de uma infância perdida.
A voz de
minha avó
Ecoou
obediência aos brancos-donos de tudo.
A voz de
minha mãe ecoou baixinho revolta
No fundo
das cozinhas alheias
Debaixo
das trouxas
Roupagens
sujas dos brancos
Pelo
caminho empoeirado
Rumo à
favela.
A minha
voz ainda
Ecoa
versos perplexos
Com
rimas de sangue e fome.
A voz de
minha filha
Recolhe
todas as nossas vozes
Recolhe
em si
A vozes
mudas caladas
Engasgadas
nas gargantas.
A voz de
minha filha
Recolhe
em si
A fala e
o ato.
O ontem
– o hoje – o agora.
Na voz
de minha filha
Se fará
ouvir a ressonância
O eco da
vida-liberdade.
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