Você que me lê, me ajuda a nascer.

sábado, janeiro 07, 2012

Uma pausa para a poesia.


Vozes-Mulheres
(EVARISTO, Conceição. 2008. Poemas da recordação e outros movimentos. Belo Horizonte: Nandyala, 2008)


A voz de minha avó ecoou criança nos porões do navio.
Ecoou lamentos de uma infância perdida.
A voz de minha avó
Ecoou obediência aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe ecoou baixinho revolta
No fundo das cozinhas alheias
Debaixo das trouxas
Roupagens sujas dos brancos
Pelo caminho empoeirado
Rumo à favela.
A minha voz ainda
Ecoa versos perplexos
Com rimas de sangue e fome.
A voz de minha filha
Recolhe todas as nossas vozes
Recolhe em si
A vozes mudas caladas
Engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
Recolhe em si
A fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
Se fará ouvir a ressonância
O eco da vida-liberdade.

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