Você que me lê, me ajuda a nascer.
quinta-feira, janeiro 05, 2012
Milton Santos e o racismo.
Marina Amaral - Como o senhor vê a evolução do Movimento Negro no Brasil, é rápida ou lenta?
Milton Santos: Se eu olhar para trás há um crescendo tanto na velocidade quanto na intensidade... está havendo uma tomada de consciência, digamos assim, do fato de ser relegado. Por que os negros não fizeram parte da Nação Brasileira, isso é outra cosia. Sinto isso pessoalmente é minha experiência.
Sérgio de Sousa – O senhor sente que isso também se dá em relação ao pobre?
Milton Santos – Não é a mesma coisa porque não está claro na cabeça.
Sérgio de Sousa – Na cabeça do pobre?
Milton Santos – Não, na cabeça dos outros. Quando se é negro.
Quando se é negro é evidente que não se pode ser “outro”, só excepcionalmente não será o pobre. É muito
diferente... não será o pobre, não será humilhado, porque a questão central é a humilhação cotidiana.
Ninguém escapa, não importa que fique rico. E daí o medo que também tenho de circular.
Marina Amaral - O senhor tem medo?
Milton Santos - Claro, esse medo da humilhação.
Marina Amaral- O senhor tem medo de entrar, num restaurante chique e alguém olhar torto porque o
senhor é negro?
Milton Santos - Tenho medo, sim.
Extraído daqui.
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