Você que me lê, me ajuda a nascer.

quinta-feira, abril 03, 2008

Nada não.

02.04.2008

Quem tiver de sapato num sobra

Já dizia o bandido da Luz Vermelha.

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Lasar Segall, eu gosto dele. E com uma tela dele, consegui pela primeira vez chorar, diante de uma obra de arte. Alguém ainda faz isso nos dias de hoje? Alguém te faz chorar, além do seu amor não-correspondido?

Encontro, 1984. Nome da tela. Uma mulher branca, um homem negro, se encontram numa das muitas ruas de uma cidade, pode ser São Paulo. Ela de perfil, altiva e esnobe, ele de frente, olhos baixos. Não quero dizer mais nada.

Perfil de Zulmira, outro quadro de Segall que gosto. Lembra a Zulmira, a federal do Tião Medonho, aquele mesmo, que assaltou o trem pagador, maior roubo da história da América do Sul e que “puliça” nenhuma imaginava ter dedo de brasileiro, ainda mais preto e favelado. Diferente de Tarsila, Segall pinta uma preta bonita, sensual, sem exotismo: é só mais uma mulher, entre tantas, mas bonita, bonita.

Morro Vermelho, mais um quadro. Vejam por si mesmas e mesmos esse aí, pra dar gosto de ver os outros:



Luz péssima dessa reprodução, mas valeu a intenção. Ou não?


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Roger Bastide, em seu livro O Candomblé da Bahia (2001), diz

Sobre a manutenção da poligamia africana no Brasil, reinterpretada em termos ocidentais, ver sobretudo Octávio Da Costa Eduardo, op cit, pois trata-se do exemplo mais nitidamente africano: o marido dá a cada uma das mulheres uma roça que ela cultiva e da qual vende a colheita em seu próprio beneficio. Na Bahia, geralmente, cada mulher vive num bairro diferente, do mesmo modo que na África cada uma tem sua própria casa, em torno da do marido, indo este visitá-las de tempos em tempo

Não tenho nada a ver com isso, pergunte a Bastide. Pena que o ômi morreu em 74. O livro todo é bom, leiam, é um deleite. Por que quanto mais eu leio sobre a África, mas eu descubro a mim mesma, quanto mais eu entendo de candomblé eu lembro da minha infância e entendo os jogos, frases, sorrisos, eu entendo da Bahia, de minha família, amigos e amigas, cidade e coração: quanto mais eu vivo, mas vida ainda eu tenho e quero pra viver, pra viver de novo, dessa vez mais aprendida.

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Escrever pra curar feridas
E abrir caminhos
Despachar tristezas
E aliviar corações cansados

Eu tenho corações
Que trabalham diferente
E passam o tempo no contratempo
Ludibriando minha razão

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Essa cidade me atravessa


Eu já escrevi isso?

E tem outra:


Tava sonhando acordada
Mamãe (Oyá) sentou do meu lado
E me falou
Que aquela dor que doía
Ia encontrar calmaria
Nos braços de outro amor
Paixão me fez marinheiro
Fez do meu cais, meu saveiro
E me navegou
Saí cantando vitória
Tristeza virou história
De pescador


Canto e recanto. Demora pra acontecer, mesmo quando a gente acredita na música? Quando eu digo não é não. Mas quando eu digo sim é sim. Sou ruim, sou oito ou oitenta, ou oito e oitenta, mais sou eu (não errei, é mais sou eu mesmo), sou eu mesminha, sem cópia nem chave-mestra, não sei ser outra, por que nunca fui outra, e ser eu dá trabalho, sendo outra quando no meu corpo sou eu deve dar mais trabalho ainda, então me deixa ficar quieta e esperar passar.
Liguei pra tu, queria só dizer

Tira ele daqui de dentro, não quero mais gostar dele

Mas você não atendeu. Meu mandigueiro particular não me atendeu.

Saudade de Itapoan, me deixa
Me deixa
Aaaa
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Eu tiro onda mermo. Boto banca, quebro tudo. Se tu fosse eu, faria a mesma coisa.

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