Você que me lê, me ajuda a nascer.
sexta-feira, abril 18, 2008
10.04.2008
Não posso mais. Entrego os pontos
Eu
Pessoal, deixem um espaço no caderno para responderem as questões, não fiquem com pena do caderno, é pra usar
No que me levanta uma garotinha, solenemente
Não é do caderno que eu tenho pena, professora. São de todas essas árvores que se cortam para fazer papel por aí
Que tu faz depois de uma dessa? Pede pra sair? Vergonhaaaa, sim, eu erro. Melhor que saber que erro, é reconhecer, voltar atrás. Pedir desculpas e continuar vivendo feliz.
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E ali, olhando pra ela, na fila da pipoca, eu tive certeza, sim, eu a amo. Tive vontade de parar a conversa, parar tudo, pra dizer isso, mas não ia caber ali, como não cabe aqui, todo o sentimento do mundo, amor, amor, amor.
Recebi um abraço bem cedo, me dizendo
parabéns pelo que você escreve, muito lindo, tu tem que ser escritora, parabéns
Diz se não é pra ficar feliz o dia todo e nem sentir preguiça. Sou feliz então.
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E agora eu descobri um que me responde mensagens, que me pergunta como foi o meu dia, e eu quero que seja ele, mas pena mora longe, mas sim eu já sei o que é isso, e não ligo pro que dizem, só quero sorrir quando lembro dele, que me faz sentir o sangue correndo e que vem do coração. Vou deixar o barco correr, não tenho medo, tenho certezas dos tudos das vidas e daquilo que ainda nem sei saio na chuva pra enfrentar o dia de alma limpa eu não tenho muito que esperar, só que ele me ligue, só a sua voz numa segunda-feira cinza, só isso. E ele acredita em mim, e eu nele, é isso que faz toda a diferença na vida, encontrar alguém pra quem enfim você pode ser boba, só pra ele te achar bonitinha, tu já fez isso? Então, responde sim pro amor e vem dançar na chuva, é garoa mas aqui vale tudo, o coração aceita qualquer sorriso sincero e molhado de garoa cheia de esperanças.
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A melhor coisa pra alguém que ensina todos os dias é aprender coisas novas, coisas que te fazem ter vergonha de não ter aprendido ainda. Você sente na pele o que sente todas aquelas pessoinhas com quem tu lida o tempo inteiro, e entende a vergonha dela, a coragem dela, a vontade dela, a preguiça dela. Não fui fazer natação pra isso, mas me ajudou a entender mais ainda que quanto mais a gente ensina, mas aprende o que ensinou. E que na verdade, o que fica, de tudo isso, é aquilo que você pode compartilhar, relacionar, na vida, na escola, no amor e no jogo.
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12.04.2008
Homem, meu homem
Também não quero brincar
Mas não sei se estou falando sério
Talvez meu jeito de ser
Ainda não me dei a conhecer
O tempo que ainda não perdemos juntos, onde está?
Concordo
Ansiedade faz mal pra mim, pra tu
Brincar de amor, o que é?
Não gosto de jogos e adivinhas
Prefiro beijar você
Sem essa, sem essa.
Sem essa.
Em meio a cenas desconexas
Eu me escondi, fugi do óbvio
Nosso futuro eu não preciso saber
Por que ele é nosso
O tempo é senhor dessas histórias
Por isso eu acalmo, espero, respiro fundo,
Se temos um destino, e ele é nosso
Não preciso me preocupar
Você, homem, quanto tempo precisa pra ser meu homem?
Você, homem, quanto tempo precisa pra ser meu homem?
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Onde morava esse homem, ou que fazia e onde estava quando e morava e fazia por aí?
Quando ele queria amor e sorrisos e um café na cama, onde procurava? Não nos meus lugares, não em mim. Por onde então passeava, que lugares visitava, em que bar afogava suas mágoas quando eu em casa me afogava em solidões?
Encontrar com ele assim, voltando pra casa, numa tarde comum de quinta feira sem sol em sãopaulo, periferia, esquinas. Acena com a cabeça, me olha. Sou comum, ele também, mas não menos especiais, não menos originais. Por que o mundo é aqui dentro da gente, ele me diria, se eu o encontrasse assim de sopetão.
Esse homem, se habitante fosse do mundo comum, do meu mundo comum, iria pra minha casa, e ali faríamos amor sem muitas palavras, guardados sob os olhos atentos de dubois e neilopes nas estantes, nossa cor em profusão de sentidos, nossas pele uma pele.
Esse homem, que eu não encontro nos meus lugares, encontra a vida de outras pessoas, faz amor com elas, quando me encontra não me vê. Passa por mim, invisível que sou ao sexo, ao amor, pois que é outro lugar, onde os desejos se escondem nos abraços formais e mãos que se apertam levemente suadas, onde os sentidos obedientes não me atendem.
Eu, que sou feita de desejo, me dissolvo então, e no meu lugar um eu-outro, nesse outro lugar não-meu.
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Joel Rufino é rei, né?
Leiam
Paixão é um sentimento do qual brotam alegria e tristeza, simultaneamente. Parece ser imprescindível ao ensino de qualquer coisa.
E para quem quer começar a escrever, o cara dá uma aula, em poucas palavras:
A literatura de qualidade é a que dá a sensação de o verdadeiro ser falso e vice-versa. Ela precisa causar um estranhamento que vem de repente num trecho qualquer, num verso despretensioso, e trazer no seu conjunto a colocação de um problema humano a ser resolvido.
A literatura é uma das muitas religiões sem Deus.
Agora leia Emerson, um dos caras que Bob, o Dylan, gostava pacas:
É fácil viver no mundo conforme a opinião das pessoas. Mas o grande homem (mas a grande muié) é aquele/a que mantém a independência da solidão.
E vejam só, amatore, palavra da qual deriva a palavra amador, vem do italiano e assim se denominavam os músicos que faziam música por talento, prazer, por amor. Isso no século 16, 17. Agora pense, hoje em dia quando dizemos que alguém ou algo é amador queremos dizer que o negócio é inferior, sem estudo rebuscado, nível um, coisa sem valor então. Assim, para nós, o sentido foi retirado de onde mais as coisas todas haviam sentido: no talento, no prazer e no amor! Mundo cruel essezinho.
só a ciência nos purificará e arrancará do nosso coração a ligação sensível que temos com a vida e com a arte
Que pena de nós. Penso, mas que é a ciência então, senão parte das artes dos sujeitos e sujeitas deste mundo? A Ciência, babe, não se engane, é uma grande mentira. Assim como deus e as promessas eleitorais.
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16.04.2008
Assim, de cara, por quem sou apaixonada?
Alberto da Costa e Silva, Mia Couto, Eduardo Coutinho, Meggy, Sérgio Machado, Thandie Newton, Joel Rufino, Nei Lopes, Ilê Aiyê, minhas crianças todas, mainha, Grace, Léo, Erico Brás, Lázaro Ramos, Leandro Firmino da Hora, Dayane, Milton Santos, Mafalda, Hugo, Liberdade, Picasso, Caio, Matisse, Da Vinci, Pedro Juan, Drummond, Spike Lee, Buda, Lauryn Hill, ufa,
Não necessariamente nessa mesma ordem. Só os de cara, tem os de coração.
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Eu falei
Nhanderu em guarani é deus, assim como deus é Alah em árabe
No que completa meu aluno
E Oxalá, em yoruba
Eu, toda feliz, né?
Mais feliz ainda foi quando levantei a discussão sobre as terras indígenas roubadas pelos portugueses e uma das crianças argumentou
Mas por que a gente não constrói um lugar para eles viverem?
Tentei falar algo, mas aí levanta a mão uma outra e diz
Ah, eu não acho certo essa idéia da Luana, não, por que se eles ficarem chateados com a gente vão fazer uma mágica e a gente vai ficar com a cabeça deste tamanico
E outra, mais impaciente
Não é isso, pessoal, não tem nada a ver. A gente não tem que construir nada para eles, a gente chegou aqui depois e eles que tem que viver presos? Acho que a gente tem que aprender a viver com eles, viver todo mundo junto, a gente aprende com eles e eles com a gente, entendeu?
Nessa hora, eu já tinha sentado na minha cadeirinha, pra assistir o debate. Não preciso mais dar aula. Crianças de oito e nove anos discutindo questões tão importantes pro mundo, diz se não é a melhor recompensa? Fico com os olhos marejados de lágrimas, construção do conhecimento ali, e bem no meu nariz! Caderno? Pra registrar, pra anotar nossas conclusões, não pra viver com a cara em cima, sem nem olhar pra cara da pessoa que senta do seu lado, afinal, tem as árvores, coisa que eu falei lá em cima, não esqueçam.
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Eu disse, eu disse. José Serra estuda diminuir o número de cadeiras nos ônibus. Pra quê?
Pra caber mais gente, minha gente!
E tem gente apoiando dizendo que na China é assim, que os trens lá não têm lugar de sentar, só um negocinho de segurar na hora do sacolejo. Mas todo mundo esquece de lembrar que na China os trens são de ultima geração e as viagens não duram quase seis horas por dia, ida e volta. Tu vem aqui no meu bairro, eu que vou trabalhar de manhã cedo e tomo um lotação (adoro usar essa palavra, só por causa daquela história, A Dama do Lotação, sou quase-eu, no horário que tomo o lotação sou rainha, quase-só-eu de muié) no contra-fluxo (todo mundo que mora em São Paulo aprende essa palavra uma semana depois que está aqui) e tem trânsito, pessoas ganham qualquer merreca e compram um carro velho, entope a cidade de carro, acabou-se o mundo.
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E eu queria dizer uma coisa, mas não queria ser tão socrática. Só posso dizer que quanto mais eu aprendo, menos eu sei. Essa é a única verdade do mundo. Esqueçam o resto e concentrem-se na vida toda que vocês têm pra viver.
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Se tu me dissesse
Mas eu tenho outros corpos, e eles estão por aí
E eu te respondesse
Se tu tem outros corpos, isso me obriga a ser eu mesma sempre. Por que senão, como vou saber se você é você mesmo, quando te encontrar de novo por aí? Preciso ser eu sempre, pra te reconhecer
Tu iria me achar uma menina interessante? Um ser de possibilidades?
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