Você que me lê, me ajuda a nascer.

terça-feira, setembro 25, 2007

Departure.

É difícil arrumar as coisas, ir embora, tudo isso. Eu, minhas coisas, parecia um negócio só, mas agora, quando eu tenho que fazer tudo caber nessas duas malas tão pequenas, eu vejo o quanto de mim vai ficando por aqui, vai ficando sempre, todas as vezes que tenho que partir. Foram algumas vezes, todas sempre dolorosas, com direito a trilha sonora e lágrima de adeus. Agora parece diferente, mas no fundo, é como da última vez, em que eu tive que deixar o “tal moço perfeito” naquela “linda cidade”. É como da última vez, por que nunca teve despedida, eu sempre fujo de despedidas, eu corro de mim mesma em estações de trem e terminais rodoviários, aquela pessoa ali não sou eu, é alguém indo embora para algum lugar que ainda não lhe pertence, e eu não sou aquela pessoa que corre, eu sou mais que isso, enfim, eu sou. Cada item que levo me lembra algo que eu queria esquecer muito, ou talvez lembrar sempre, para não deixar acontecer. E tudo que vai ficando, também me lembra e me faz esquecer tantas outras coisas, de mim, dos outros, dessa casa, da vida. Ainda não aprendi a lidar com isso, lembrar e esquecer, nunca sei a ordem. Não há escolha, a ida para uma grande cidade é também culpa minha, quando disse para mim mesma que deveria experimentar novos ares, dessa vez mais poluídos que todos os outros onde vivi. Pensei que não ia dar certo a tentativa de emprego, me diverti com a idéia de acordar 30 minutos mais cedo por causa do ônibus lotado às 7 da manhã, achei que funcionaria se eu fingisse não ligar. Mas enfim, aconteceu, deu tudo certo, emprego e apartamento, tudo assim arranjado em uma semana, propostas que não se podem negar, sob pena de padecer por ingratidão. Então, como que prevendo todo esse fim, deixar uma cidadezinha que não me trouxe novos amores, mas me ensinou a amar-me mais e melhor, comprei ontem um vinho. Na verdade, ele foi comprado para celebrar a união de um casal de amigos, velha união que todo ano se refaz, mesmo com todas as queixas numeradas em ordem crescente, haja vista a organização da garota com essas coisas do coração. O casal não apareceu, e eu fiquei aqui, dose de vinho, Carlos Gardel na cabeça tocando todos os seus sucessos e me fazendo lembrar das saudades que senti do “tal moço perfeito”, logo depois que fugi da “linda cidade”; se não há o que comemorar, também não há o que chorar, é assim, mas vida morna é tão sem-graça, então bebi mais vinho e fiquei sensível, o bastante para ligar para ele e só ouvir a voz, por que ele me conhece e sabe que sou a única a fazer isso, todo mundo tem alguém único para fazer isso, eu só queria naquela hora ser a “tal moça perfeita” e não o contrário, mas vamos esquecer disso, por que amanhã o ônibus sai às 6 da matina e eu quero estar aqui, firme e forte para encontrar o barulho dos carros, o cheiro típico de café feito às pressas em barraquinhas que esperam muita gente, o ar poluído da nova cidade, ah, o ar poluído, o que faz com que tanta gente volte de lá, mas eu estou indo, de cara limpa ao encontro do ar poluído, do barulho, e do café.

5 comentários:

Anônimo disse...

nobody's perfect, not even a perfect stranger...... Time, the avenger!

Migh Danae disse...

não tem graça nenhuma quando as pessoas escrevem aqui e não dizem quem são e a que veio.
bah.

Anônimo disse...

shhhh..... fala baixo, você está em um lugar público. Sou só um cara que gosta de acompanhar suas aventuras, my funny Valentine. Um voyeur? Talvez um auditeur...

Migh Danae disse...

Voyeur ou auditeur, quero saber quem é vocêur.
Ah, e no outro comments eu deveria ter escrito o fim no plural. Mas é que só quero atacar você mesmo.
Me liga, então. Normalmente voyeurs gostam de ouvir vozes, sussurros...

Migh Danae disse...

Você sempre escreve às 8 da manhã.
Funcionário Público?
:-P