Você que me lê, me ajuda a nascer.

quinta-feira, setembro 27, 2007

Pai.

Não é que ele falava tanto, mas uma frase boba que ele dizia sempre hoje me faz lembrar tanto dele, quando olho ao meu redor e tanta coisa triste e chata acontece: Do tempo que eu nasci, e ainda tou vivo Tenho 26 anos e uns tantos dias, quase 27, e quando chego em casa fico imaginando o quanto de coisa poderia ter acontecido comigo mas não aconteceu, e por isso ainda tou aqui, viva. Todos os dias eu pego lotação lotada, me amasso, amasso livros e sonhos ali dentro, ou então lotação vazia que corre feito louca, mas eu sempre chego, isso já fazem uns três anos, eu sempre chego, nada de muito diferente disso acontece, e eu trabalho, tudo vai seguindo, uma coisa aqui outra ali, já diz minha professora que defende o cotidiano não-rotina, então não é rotineiro o meu dia-a-dia, mas nada demais, como flores no fim da tarde ou alguém descendo de balão se declarando pra mim, ou um simples pedido de casamento, nada loucamente fora do real, tudo vai seguindo até que eu tenho que encontrar a lotação lotada, descer no ponto, talvez comprar pamonha, às vezes eu estou enjoada de pamonha mas também enjoada de pão com ovo e catchup, então não sei o que faço, mas a lotação tá vindo e não dá tempo de pegar as moedinhas para comprar a pamonha, o moço cobra um real e vinte e cinco e eu fico zangada por que tenho que procurar as moedas, ele sempre diz leva duas e eu sempre digo se eu já nem aguento com uma, talvez se você vendesse uma e meia, mas de qualquer modo eu teria que pegar uma moeda de cinquenta centavos se fossem duas então não é vantagem, e é nessa hora das moedinhas que fico com medo de perder alguma coisa, eu sempre tenho medo disso, e fico apalpando a bolsa para ver se não perdi nada, mas a lotação chegou e eu entro e me amassam de novo, eu sorrio, eu acho graça de tudo isso por que nunca perco nada, está sempre tudo ali e inteiro mesmo quando me amassam, passo o cartão, desço pela frente por que está sempre cheia, abro a porta de casa, ouço música, tomo banho, ligo para alguém, estudo, fico aqui, depois vou dormir e aí, não é incrível que eu ainda esteja viva? Não quero morrer, só acho fantástico cada segundo que passo nessa terra. Isso é motivo para sorrir, mas todo mundo acha estranho quando eu danço junto com a música que eu ouço nos fones de ouvido, nem-aí.

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