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quinta-feira, julho 19, 2007

Turismo interior.

Eu entendi que não é que eu goste de viajar. É que me importa muito mais morar na cidade do que ser turista nela, seja por apenas dois dias ou um mês a minha estada. Então, o que tem graça em Porto Alegre é tomar o metrô pela manhã (tomando sempre o cuidado de chamá-lo de metrô, mesmo que ele seja um trem), sentir frio, tentar pegar o tíquete dentro da bolsa sem tirar a luva, ouvir as mais diferentes formas de se pronunciar o "bah", fingir cara de séria, fingir timidez e reservas, uma moça que vende toucas e luvas e guarda-chuvas às 11 da noite no centro da cidade, taxistas que conversam com o chimarrão à boca enquanto esperam mais um cliente (o mesmo chimarrão à boca quando entram no carro, perguntam o destino, dão a partida), me importa saber o que eles e elas fazem para passar o tempo, como é o seu dia, o dia de sempre. Museus, praças e parques tem o seu valor, não estou brigando contra isso. Só quero reinvidicar que tem muito mais gosto as coisas todas que se aprende dentro das casas, com as famílias ao redor da mesa, em qualquer bar da esquina reside o espírito da cidade, nem é o mais descolado que vai te ensinar a cidade onde tu tá visitando, ele é fake, então... um conselho: não faça pacotes de viagem, mande o guia embora, não se preocupe em ver a Torre Eiffel em Paris se você ainda não conseguiu ver a alma da cidade, tenha bem claro que o patrimônio e lugares foram feitos por pessoas e elas estão do seu lado, no café, na banca de jornal. Conheçamos, dentro pra fora, pra entender o fora, de dentro. Se você acha perigoso tudo isso, se pra você é inseguro andar às 23 horas em qualquer centro de qualquer cidade no Brasil e tantos outros países, desista de viver. É preciso muita coragem para permanecer vivo e viva, quem não tem coragem nem sequer sobrevive, sonâmbulos medrosos perscrutando a vida alheia, tsc, tsc. Não precisamos de mapa quando o maior turismo é sempre aquele que a gente faz dentro da gente. Caminhos/descaminhos, encontros/desencontros estão todos aqui, não precisa escolher nada, é só se deixar levar. E em todas as cidades, a graça está em decifrar o não dito, se o museu fica naquela rua que eu estou passando vamos lá, não esquecendo de dizer oi para quem passa, ver quem vai e vem, as cidades são as gentes, as cidades são pedras. As cidades. Depois de falar sobre e contra a discriminação nordestinos/as-paulistanos/as, me interpela uma senhora: "Adorei sua fala, eu sou paulistana. Verdade, somos muito preconceituosos. Tem que denunciar... se alguns de vocês caem no crime, a gente não pode generalizar..." Sorri um sorrisinho sem cor e sem graça, assinei a lista de presença e fui embora.

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