Você que me lê, me ajuda a nascer.

sexta-feira, setembro 04, 2020

Ruby, de Cinthia Bond.

Ruby é para as pessoas fortes. Eu não sabia disso até entrar lá pela página 100. Até ali, ainda achei, opa, é só um pouquinho, vou aguentar. Tem tanta beleza nas descrições, em todas elas, nas dores e nas delícias que eu pensei, tenho de atravessar isso, ainda que me atravesse. Mas ai, dói, dói muito. 

Ao mesmo tempo, Ruby foi o livro que me fez chorar de emoção e não de dor, coisa que eu não sinto há muito muito muito tempo com um livro. Como explicar? Só sei que um dia, deitada na rede, fim de noite, desabei. 

A história é sobre Ruby Bell, menina negra de uma pequena cidade no Sul dos EUA que precisa conviver com a vida que tem e com mais vidas que a ela foram designadas, vidas daqui e de outros mundos que a acompanham porque ela tem esse poder de ouvir e entender, virar água e árvore. O livro fala da infância de Ruby e também da sua adultez, com idas e vindas e histórias pelo meio que nos fazem entender quem é Ruby.

Ephram é o rapaz que sempre esteve na vida de Ruby e conta para ela de um amor que ela nunca conheceu e não acredita, mas que tem o poder de curar.

Naquela primeira noite de chuva, depois que a porta tinha sido limpa, ela estava de pé, confusa, sem saber o que fazer, quando Ephram dissera: "Ruby, você tem que saber que eu sou ligado ao casamento. Quero tratar você como a dama que você é até esse dia chegar e oferecer essa glória para a gente".

Ela fora obrigada a dar de ombros, enfadada, para evitar que ele visse a gratidão em seus olhos.

Manhãs deram lugar a tardes, com Ruby bebendo café e comendo ovos mexidos e torrada  com geleia de framboesa que Ephram preparava, depois observando-o enquanto ele pegava o ônibus vermelho para ir ao Piggly Wiggly, em Newton. Todo o dia Ruby parava e olhava o mundo que aquele homem construíra para ela. Frutas repousavam  em uma tigela na mesa. Havia pratos limpos com flores azuis, jogos americanos que combinavam com a louça, guardanapos e talheres de verdade (p. 241).

[...]

Nesse momento, Ruby se lembrou dos pés de galinha contornando os olhos marrons de Ephram. O modo de andar dele, tão suave e tranquilo quanto o lago Marion. Pensou no sorriso dele e no jeito como os cantos da boca se curvaram para aceitar a expressão. Pensou no coração de Ephram e no jeito como ele a amara. Como a enxergara. Como a ajudara a enxergar seu próprio valor. Seu tesouro. Ela nunca tinha sido a puta dele. E nunca seria. Nem que eles passassem mil anos sem se ver. Ela sempre seria amada (p. 280).

Tem dor, tem amor, uma mistura só, não sei se saberia separar. Não acredito que há saída. Não acredito que precisamos sofrer para aprender nada na vida, mas também não acho que essas coisas estão diretamente relacionadas. Sofrer, amar, aprender, são como frutas de árvores diferentes que vez por outra você acabará provando, ainda que por fome, falta de escolha, precisão (ou enganada mesmo).

Cinthia Bond

2 comentários:

Caio Silveira Ramos disse...

Os pescadores, Ruby...Eita, que desse jeito você me faz aumentar minha estante...

Migh Danae disse...

O jeito é o Kindle.