Você que me lê, me ajuda a nascer.

terça-feira, dezembro 17, 2019

Barulhinhos.

Oronho vinha aqui e era só silêncio. Passávamos horas fazendo nadas mergulhados em silêncios. Por vezes um som aqui e ali, tão raro. Agora ele tem dois anos e está descobrindo o som. O som que sai dele, de dentro e de fora, o som que está nas coisas. Eu não sei o que eu gosto mais, de antes ou agora, é tudo tão lindo, ele é tão ele mesmo o tempo todo que me dá uma coragem da zorra de seguir em frente. 

Tão em paz sendo ele e por mim se o mundo não sabe, quando ele quer algo, ele chora alto, bem alto, grita, às vezes é só sono e eu não sei, aí ele se aninha no meu colo e fica com os olhos bem grandes abertos por uns 20 minutos e depois dorme. Dorme. Dorme, mas acorda e grita quando eu tento mudá-lo para cama. Converso, ele grita, me puxa para baixo dele e fecha o olho de novo. Ele já disse onde me quer, volta a dormir. Não quer ser importunado.

Depois, acorda com a maior calma e beleza do mundo e já entra no jogo da vida, no que as pessoas ao redor estão fazendo, fala com todas as pessoas da sala de algum jeito, chega perto, olha, sorri, corre, aponta. Brinca com tudo mas pede com os olhos para mexer no que quer. Olha os livros de perto mas sem bagunçar nada, passa as vistas em tudo tudo tudo mas escolhe e pede com os olhos. Pede, pede. Eu deixo tudo, estou rendida.

Eu sou muito grata à vida por ter Oronho aqui. Eu não poderia ser mais feliz, aliás, eu sempre acho que não poderia, mas eu posso, sim. Toda vez que encontro ele me pergunto "como fiquei longe tanto tempo?". E ele vai, diz para a mamãe que quer ir embora. E ele vai. 

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