Foi em 2012.
Assim que terminei de escrever a dissertação que falava das mulheres negras professoras, recebi um convite por uma rede social de ninguém mais do que Antonio Pompêo. Ele tinha lido alguma coisa em algum lugar e me deu os parabéns pelo tema, falou que queria a dissertação para ler, interessou-se em conversarmos para um possível documentário.
Não levei muito a sério. Afinal, era ele. Ele. O homem que eu tinha crescido vendo em Quilombo (1984) e Tenda dos Milagres (1985), o homem que por acaso eu nunca mais vi desde 2003 na TV' estava ali, falando comigo. Morava em São Paulo e contei-lhe de meu amor pelo Rio. Foi quando ele emendou que poderíamos nos ver qualquer dia, deu-me seu celular. Desacreditei menos ainda, mas um dia liguei. Falamos coisas da vida, falamos nada, conversamos amenidades. Sobre o Rio, sobre a dissertação, sobre quando nos veríamos. Eu nunca soube como lidar com isso, deixava pra lá, acho que eu tratava como um sonho bonito que a gente acorda com sorriso no rosto e levanta da cama para ir viver a vida real.
O tempo passou e eu me desconectei da rede social. Nos falamos mais algumas vezes sobre coisas amenas, sobre nossas vidas, ríamos de coisas simples. Eu ainda não acreditava, mas a voz era inconfundível. Trocávamos sms e até alguns whattsapp's, no curto tempo em que me atrevi a ter uma conta. Mas eu acho que nunca levei a sério. Esse ano, ao voltar para o Facebook, ele me achou novamente. Temos muitos amigos em comum por ali, não seria difícil. Voltamos a nos falar algumas vezes, revi algumas coisas que ele fez, sempre falava da minha admiração. Ele respondia agradecido e risonho, simples, o que me fazia desacreditar cada vez menos que era ele.
Não contei isso pra ninguém. Achei que ninguém ia acreditar em mim. Acreditar que era ele. Mesmo que eu ligasse e botasse ele na linha, eu achava que iam pensar que era uma brincadeira. Coisa de fã. Foi um respeito quase sagrado que não me fez chegar mais perto dele.
Aí ontem, a notícia. Fiquei chocada. Tentei recuperar nossas conversas, fiquei lendo por muito tempo, noite adentro. Não sei no que desacreditava mais: na sua morte ou no fato de que ele foi uma pessoa tão perto de mim. Ele era perto quando a gente não se conhecia, me ajudou a me ver na tevê e quando se tornou além de perto, real, eu não soube o que fazer direito.
Não é que ele era um deus ou coisa assim. Ele era Pompêo e merecia toda a minha admiração por ser quem é. Pelo que eu vi, ouvi e o pouco que eu conheci. Sou eu que sou boba demais para lidar com algumas coisas. Ou talvez, vai saber, eu sempre acho que as pessoas que eu quero perto são imortais.
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