Você que me lê, me ajuda a nascer.
quarta-feira, julho 02, 2008
Dois de julho.
Dois de fevereiro.
Dia de Yemanjá.
Dois de julho.
Dia de todos os santos.
Adoro dois, mas adoro três. Sumi não, tava escrevinhando por aí coisas que não se pode escrever por aqui. Bem, não é que não se pode, é que ainda não está pronto. E depois, tem uma coisa, estava em greve, então, sem contato com os seres que me inspiram dia e noite, fiquei assim, pobrezinha das palavras, e ademais, disse um dos entrevistados no documentário O Fim e o Princípio, por Eduardo Coutinho
o cabra que diz tudo que sabe fica besta
Mas a que eu gosto mais é quando Moisés pergunta
Será que eu sei tudo que eu sei?
E tu, sabe? Hoje na sala, grande discussão filó-teoló-gica:
Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?
E toca a criançada a elaborar histórias sobre o mundo, o começo do mundo, o fim do mundo, deus, diabo, jesus e os dinossauros, todos num saco sem fundo só. Depois ainda me perguntam por que é que eu sou feliz. Eu, pra provocar, digo
mas a árvore que tinha no jardim do éden, sabe como se chamava? árvore do conhecimento! quer dizer que o conhecimento é pecado!
Um de lá arrisca
Alguns são mesmo, professora, mas eles esqueceram de dizer e colocaram que todos os conhecimentos são, esses que a gente aprende na escola pode, outros é que não pode
Mas agora o que me toma o coração é o pensamento são as crianças de dois anos me revelando o mundo, me ensinando a ter paciência, eu fico chateada com esses brinquedos que inventam pra criança, são brinquedos que reproduzem essa realidade chata que a gente vive, tem casinha do Tarzan (que além de tudo reproduz um monte de preconceitos), tem pazinha e enxada pra trabalhar na terra, argh, criança não trabalha mas brinca de aprender a trabalhar, como é que pode? Por isso que criança brinca com coisa que pra gente não é brinquedo, é pau, pedra, nuvem, estrela, brinca de carrinho com caixa de papelão, brinca de esconde-esconde dentro do armário, faz reino de faz de conta debaixo da pia, tira panela e é feliz, olha pra você e sorri, e você com a cara mais brava do mundo pega na mão dela e manda ela sentar pra ir pensar no que ela fez (e se você tivesse a capacidade de entender o que aqueles olhinhos marotos querem dizer, ia entender que ela diz, pensar no quê, eu sei o que eu fiz, adultos burros esses todos). Pumba, criança cresce achando que imaginação é coisa de subversivo, maluco, e que pensar, ah, pensar, é castigo, é coisa-ruim que vem como paga por ter tirado as panelas que encobriam a entrada da caverna debaixo da pia.
Depois fico pensando no meu ofício; na verdade, o que é uma professora? Alguém que estuda estuda pra fazer uma criança deixar de ser criança! É só o que eu faço o tempo todo, ensino horas pra sentar e levantar, ensino os bons modos do mundo dos adultos, digo para elas que o mundo delas não serve para nada, que elas têm que crescer. O que é que a gente diz quando ela consegue levar a comida à boca sozinha?
ah, que linda, parece uma mocinha
E quando ela chora querendo brincar mais um pouco?
vou te levar pra sala dos bebês, você é bebê
Respire fundo, tem mais. Por que depois de tudo isso, fiquei ainda pensando, quem sou eu, então? Uma criança que alguém mais velho ou mais velha ensinou a deixar de ser criança! Agora fico por aí, órfã pela vida toda, perdida, por que não sou velha, não sou nova, gosto delas, elas me entendem, eu queria dizer pra elas que eu sou de paz, que vou tentar não atrapalhar a festa, mas deve ser muito difícil acreditar em qualquer pessoa com mais de cinquenta centímetros, eles fazem alguma coisa, qualquer coisa e já vem aquela voz lá de cima dizendo, pára menino, desce, menina, vem aqui, ah, que chato, que chata, eles e elas nos olham com um olhinho dizendo, puxa, de novo, eu confiei em você, e você ralhou comigo de novo, como é que pode, você não deixa de ser adulto nunca nessa vida, relaxa um pouco, vem brincar de tirar panela debaixo da pia, é tão bom descobrir a entrada da caverna!
A gente se irrita, não aproveita o momento, e, ainda por cima, achamos estar certos e certas o tempo todo com relação às crianças. Quanta petulância, meudeus, quanta ignorância. Somos nós é que precisamos das crianças, pra continuar vivendo, e não o contrário. Não se enganem.
Me acham rabugenta? É normal Sim, por que sou uma adulta doida de vontade de voltar a ser criança. Só as crianças ainda me toleram nessa vida.
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2 comentários:
ciao piccola! vamos pro br em agosto. eu, rio e leo que nao é besta, salvador. tudo bem contigo? beijo
Oxi, de novooooo?
A gente vai se ver?
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