Você que me lê, me ajuda a nascer.
domingo, setembro 30, 2007
sexta-feira, setembro 28, 2007
Nordestina.
Como disse João Cabral de Melo Neto:
Sou nordestina, não gosto de coisas abstratas.
Não é que a gente não goste, sabe, é que a gente não entende, e amor pra gente é semeado na chuva, tem cheiro de terra, conversa no pé do fogão e banho antes de ir dormir pra ir dormir sem roupa, sentindo o sereninho da noite, o calorzinho dos trópicos que queima também o coração.
Acaso será por isso que meu coração esquenta toda vez que penso no moço que mora mais perto dos trópicos do que eu? Acaso será a geografia também um mal de amor? Ou será certamente toda e qualquer ciência mal de amor, bastando para isso estar enamorada?
Não sei ainda. E quem souber, não me diga. Corro o risco de começar a ficar abstrata demais. E de tão abstrata, posso me dissolver, me liquefazer aqui para renascer lá, pelo simples motivo de estar apaixonada.
quinta-feira, setembro 27, 2007
Pai.
Não é que ele falava tanto, mas uma frase boba que ele dizia sempre hoje me faz lembrar tanto dele, quando olho ao meu redor e tanta coisa triste e chata acontece:
Do tempo que eu nasci, e ainda tou vivo
Tenho 26 anos e uns tantos dias, quase 27, e quando chego em casa fico imaginando o quanto de coisa poderia ter acontecido comigo mas não aconteceu, e por isso ainda tou aqui, viva. Todos os dias eu pego lotação lotada, me amasso, amasso livros e sonhos ali dentro, ou então lotação vazia que corre feito louca, mas eu sempre chego, isso já fazem uns três anos, eu sempre chego, nada de muito diferente disso acontece, e eu trabalho, tudo vai seguindo, uma coisa aqui outra ali, já diz minha professora que defende o cotidiano não-rotina, então não é rotineiro o meu dia-a-dia, mas nada demais, como flores no fim da tarde ou alguém descendo de balão se declarando pra mim, ou um simples pedido de casamento, nada loucamente fora do real, tudo vai seguindo até que eu tenho que encontrar a lotação lotada, descer no ponto, talvez comprar pamonha, às vezes eu estou enjoada de pamonha mas também enjoada de pão com ovo e catchup, então não sei o que faço, mas a lotação tá vindo e não dá tempo de pegar as moedinhas para comprar a pamonha, o moço cobra um real e vinte e cinco e eu fico zangada por que tenho que procurar as moedas, ele sempre diz leva duas e eu sempre digo se eu já nem aguento com uma, talvez se você vendesse uma e meia, mas de qualquer modo eu teria que pegar uma moeda de cinquenta centavos se fossem duas então não é vantagem, e é nessa hora das moedinhas que fico com medo de perder alguma coisa, eu sempre tenho medo disso, e fico apalpando a bolsa para ver se não perdi nada, mas a lotação chegou e eu entro e me amassam de novo, eu sorrio, eu acho graça de tudo isso por que nunca perco nada, está sempre tudo ali e inteiro mesmo quando me amassam, passo o cartão, desço pela frente por que está sempre cheia, abro a porta de casa, ouço música, tomo banho, ligo para alguém, estudo, fico aqui, depois vou dormir e aí, não é incrível que eu ainda esteja viva?
Não quero morrer, só acho fantástico cada segundo que passo nessa terra. Isso é motivo para sorrir, mas todo mundo acha estranho quando eu danço junto com a música que eu ouço nos fones de ouvido, nem-aí.
terça-feira, setembro 25, 2007
Departure.
É difícil arrumar as coisas, ir embora, tudo isso. Eu, minhas coisas, parecia um negócio só, mas agora, quando eu tenho que fazer tudo caber nessas duas malas tão pequenas, eu vejo o quanto de mim vai ficando por aqui, vai ficando sempre, todas as vezes que tenho que partir.
Foram algumas vezes, todas sempre dolorosas, com direito a trilha sonora e lágrima de adeus. Agora parece diferente, mas no fundo, é como da última vez, em que eu tive que deixar o “tal moço perfeito” naquela “linda cidade”. É como da última vez, por que nunca teve despedida, eu sempre fujo de despedidas, eu corro de mim mesma em estações de trem e terminais rodoviários, aquela pessoa ali não sou eu, é alguém indo embora para algum lugar que ainda não lhe pertence, e eu não sou aquela pessoa que corre, eu sou mais que isso, enfim, eu sou.
Cada item que levo me lembra algo que eu queria esquecer muito, ou talvez lembrar sempre, para não deixar acontecer. E tudo que vai ficando, também me lembra e me faz esquecer tantas outras coisas, de mim, dos outros, dessa casa, da vida. Ainda não aprendi a lidar com isso, lembrar e esquecer, nunca sei a ordem. Não há escolha, a ida para uma grande cidade é também culpa minha, quando disse para mim mesma que deveria experimentar novos ares, dessa vez mais poluídos que todos os outros onde vivi. Pensei que não ia dar certo a tentativa de emprego, me diverti com a idéia de acordar 30 minutos mais cedo por causa do ônibus lotado às 7 da manhã, achei que funcionaria se eu fingisse não ligar. Mas enfim, aconteceu, deu tudo certo, emprego e apartamento, tudo assim arranjado em uma semana, propostas que não se podem negar, sob pena de padecer por ingratidão.
Então, como que prevendo todo esse fim, deixar uma cidadezinha que não me trouxe novos amores, mas me ensinou a amar-me mais e melhor, comprei ontem um vinho. Na verdade, ele foi comprado para celebrar a união de um casal de amigos, velha união que todo ano se refaz, mesmo com todas as queixas numeradas em ordem crescente, haja vista a organização da garota com essas coisas do coração.
O casal não apareceu, e eu fiquei aqui, dose de vinho, Carlos Gardel na cabeça tocando todos os seus sucessos e me fazendo lembrar das saudades que senti do “tal moço perfeito”, logo depois que fugi da “linda cidade”; se não há o que comemorar, também não há o que chorar, é assim, mas vida morna é tão sem-graça, então bebi mais vinho e fiquei sensível, o bastante para ligar para ele e só ouvir a voz, por que ele me conhece e sabe que sou a única a fazer isso, todo mundo tem alguém único para fazer isso, eu só queria naquela hora ser a “tal moça perfeita” e não o contrário, mas vamos esquecer disso, por que amanhã o ônibus sai às 6 da matina e eu quero estar aqui, firme e forte para encontrar o barulho dos carros, o cheiro típico de café feito às pressas em barraquinhas que esperam muita gente, o ar poluído da nova cidade, ah, o ar poluído, o que faz com que tanta gente volte de lá, mas eu estou indo, de cara limpa ao encontro do ar poluído, do barulho, e do café.
sábado, setembro 22, 2007
Terra.
Pé no chão.
Sabe quem é a pessoa mais-mais de todas?
Não é a que viaja o mundo inteiro pra se encontrar.
É a pessoinha que mora no interior de qualquer lugar do mundo e já sabe disso, sossegado fica debaixo de um pé de manga tomando fresca. Pisa no chão sem chinelo, tira fruta do pé, sente a terra, água e fogo, ar, não são símbolos, é vida pulsante e estão bem ali, fazem parte daquele seu mundo, grande mundo.
Aquela sim é pessoa sábia, não precisou girar o mundo pra saber que felicidade é dentro, conhecimento é aquilo que a gente aprende sobre a gente e as gentes todas. Felicidade é um trabalho interior.
Então, eu descobri que não preciso parecer feliz o tempo todo. Eu só preciso estar bem aqui dentro. E se eu quiser chorar ou ficar melancólica, tudo bem. Tá bem assim, sabendo quem eu sou, sabendo onde guardei minha felicidade.
Então...
Case-se comigo
Antes que não pareça
Um bom pedido
Case-se comigo
Antes que eu padeça
Case comigo
Eu quero dizer
Pra sempre
Que eu te mereço
E eu me pareço
Com o seu estilo
Existe um forte pressentimento
Dizendo
Que eu sem você
É como você sem mim
Antes que amanheça
Que seja sem fim
Antes que eu acorde
Meu príncipe,
Meu hóspede
Meu homem
Meu maridoo
É Vanessa da Mata pedindo, mas eu assino embaixo. Acho lindo pedido de casamento, mesmo que não se aceite, acho bonito pedir em casamento, acho romântico, acabe comigo amanhã, mas me peça em casamento hoje.
quinta-feira, setembro 20, 2007
Circunstancial.
São Paulo é circunstancial demais. Fortuita. Fugidia. É a cidade que te oferece alguém extremamente interessante por algumas horas, fila de cinema ou ônibus lotado. Depois, acabou. As pessoas aproveitam para serem elas mesmas, e no começo, você acredita que tudo aquilo vai virar uma grande amizade. Mentira. No máximo, você pode encontrar com ela algumas vezes, muito rápido, fortuito e fugidio, ela vai te pedir teu email, vai te escrever mensagens curtas, vai te esquecer. Mas se você não aguenta, pra quê veio, vai embora.
Assim como a Noite do Terror no Playcenter, a moça paulistana vira e me diz, não quero passar ali, tem uns cara vestido de monstro, mas não é medo, é que eles ficam pegando na gente
Aí tu desiste, toma uma cerveja e vai dormir.
E hoje eu repeti tanto que sou feliz, mas me permiti chorar umas lágrimas de solidão, assim na boca da noite. Por quê, tu vai perguntar, mas eu não sei, quando eu quero chorar eu choro, nem ligo pra quem tá do lado, as lágrimas vão caindo e eu nem ligo, limpo com a palma do rosto e empino o nariz, e se alguém me perguntar, eu vou dizer, nada não, é só saudade, mas no próximo ponto eu desço e passa.
E nessa hora eu fiquei pensando em chegar em casa e ligar pra tu e dizer que eu tava me sentindo só, mas o que tu poderia fazer, nada, nada, ia só te atrapalhar a noite, resolvi tomar um banho morno e ouvir Cartola, emendar o Dylan, ligar e ouvir tua voz ia me encher de coragem, mas mas mas e aqui tinha que ter um ponto. Pronto.
Hoje, dia de correio na escola, e minha aluna escreveu um bilhetinho pra colega de sala:
Você gosta de bichinhos.
Eu gosto de você.
Achei original, estilosíssimo. Bobo, pequeno, simples, por isso, original.
Limpo o rosto com a palma da mão, ninguém tá vendo.
terça-feira, setembro 18, 2007
Minino Bunito, aaai.
Eu sei onde tu tá.
Num dianta se esconder.
Enquanto isso, vou pitando o cachimbo de Drummond.
Escrevinhando nas paredes igual Lemisnky.
Não tenho pressa.
Quem tem raiva é o amor.
O meu.
Que é seu.
E não te importa.
Aha, escrevi pra ele numa carta que nunca cheguei a fazê-lo ler (por que pôr-do-sol na Ribeira acabou e ele não chegou, partida de futebol e telefone sem torre pra dar sinal):
No terreno da escrita, sou rainha, mando bem em verso e prosa
Devia ter completado:
Mas perto de tu desmancho
Igual caldinho de sururu
Meu coração na tua mão quente
Vivo
E sangue
Pulula
Bate lá no céu da boca
Volta pra embrulhar estômago
Ai
Nem ia escrever isso.
Deixa pra lá.
segunda-feira, setembro 17, 2007
Na paz.
Não tenho mais preocupações. Já sei que o homem que eu sempre quis perto existe. Sorri bonito, gosta de cerveja e de crianças, faz mil coisas ao mesmo tempo e é lin-do. Lin-do assim dito beeeem devagar, como vento quando bate no rosto da gente descendo a ladeira, é assim a lindeza dele, por isso eu sou feliz só por que ele existe e fim, ele nem precisa ser meu e eu sou feliz, não precisa me olhar e sou feliz assim assim, pela graça de amar agora, amar hoje e sou feliz, amor e nada no bolso ou nas mãos, quero seguir vivendo, e vou sorrindo, por que amo, por que ele existe.
E eu vivo chorando. Quase sempre se tem criança no meio eu choro feito boba, entro na lotação e vejo mãe chata que briga com criança, choro. Eu sou boba demais, deveria andar com camiseta escrita essa frase para não assustar as pessoas com meu choro, por que se eu quiser chorar eu choro mesmo, assim também como quando eu quero sorrir eu mando ver, então deve parecer loucura, mas quem liga?
E quanto mais a gente lê mais exigente a gente fica pra escrever, tu fica refinada e metida a conhecer estilo de escritor, escritora, ahá. Terminei de ler Pedro Juan de novo, eu gosto dele e tudo e tal, mas aí tu lê três, quatro livros e fica falando, ah, essa vírgula aqui, aha, eu me divirto com isso. Eu só sei que mais se escreve mais se quer apagar tudo, mas se aprende da gente mesmo, é uma viagem interior, e depois tu não sabe por que tu tá melhor, por que tu é feliz, mas eu te digo, acho que é bem por essas coisinhas simples, poder ler um livro, tomar um bom vinho, assistir um bom filme, chorar por criança, lavar a alma, não deixar nada engasgado, sorrir, sorrir de novo (e muito!), brincar, ouvir música, comprar um brinco novo, tudo isso e mais aquilo que eu disse lá em cima, que é conhecer assim tão cedo o homem que com certeza me faz feliz, mesmo longe, mesmo sem tempo e cheio de conversa mole pra meu lado.
segunda-feira, setembro 10, 2007
Burocracia.
Eu juro, foi sem querer. Tive que mandar um e-mail todo profissional, cheio de "vossa senhoria" e coisas e tais, mas esqueci-me de apagar minha assinatura pessoal, que é este famoso endereço aqui. E o e-mail seguiu, lindo e faceiro, foi pousar na caixa da vossa senhoria, moço de 38 anos infeliz no casamento, pelo que me consta até aqui.
Passaram-se duas semanas, e ele me escreve:
Por que fizestes isto comigo? Já não consigo dormir, sem ter você aqui, na minha tela. Por favor, escreva alguma coisa. Vou ficar maluco
Achei engraçado, estava quase deletando o dito e-mail quando li tudo isso aí em português claro, sorri e tentei responder de volta. Nada. Não consigo, não entendo. Deixei pra lá. Mas ontem ele veio com mais uma das dele:
Você deve estar viajando, eu sei. Longe? Onde você está? É possível escrever alguma linha? Já li tudo, de todos os modos, desde o primeiro mês até agora. Preciso de mais de você
E mais um outro:
Enquanto ela dorme, venho aqui e abro a sua página. Digito seu nome no google e descubro coisas de você. Posso ter uma foto sua? Como? Quando?
Eu sei que é ele, a vossa senhoria, por causa das iniciais, e por que ele me chama de sra. último-sobrenome, do jeito que tinha me escrito pela primeira vez, quando tudo era assim profissional. Da última vez que isso aconteceu comigo, tinha escrevinhado qualquer coisa para os Correiosweb, eu reclamando com o moço que o atendimento eletrônico era muito "eletrônico", e todas as vezes que eu me lamentava o moço de lá respondia:
Desculpe-me senhora, devemos ser imparciais nas nossas conversas via e-mail, afinal isso aqui é um trabalho
Ele respondia mais ou menos isso, e eu não menos safadita escrevinhava um ai, ai, ui, ui, só pra ver ele me mandar outro e-mail, se lia ali que ele estava doidinho para continuar tudo aquilo em outro lugar, não sei por que não tomava coragem, também, não tinha como saber se eu era feia ou bonita, só os meus ais ais uis uis não diziam muita coisa, só que eu era safadita, mas poderia ser tudo fake, então desistimos de tudo, de vez.
Acho que dessa vez, vou me divertir de verdade.
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