O prefácio do livro nos conta a história da recepção do livro à época em que ele foi escrito e publicado. Percebe-se que, ainda hoje, é difícil encontrar livros escritos por pessoas negras que não possam ser uma descrição de uma vida simples e doce, tranquila, leve.
Que coisa, não?
Camara escreve sobre sua infância em Kouroussa, ainda Guiné Francesa, possessão que depois voltou a ser Senegal, como antes de 1882, ano em que deixou de ser Riviérs du Sud. Confusão, né? Colonização e imperialismo é isso aí, não é para entender, é sobre dominação.
A infância em casa, um lugar onde "o maravilhoso era familiar" (p. 18) traz até nós a relação de Camara menino com cobras, terra, mãe, chuva, campo, irmãos e pais.
[...] esse mutismo das coisas, das razões profundas das coisas, leva ao silêncio; mas basta essas coisas terem sido evocadas, e sua impenetrabilidade reconhecido, para que delas fique um reflexo nos olhos: o olhar do meu tio Lansana era singularmente penetrante quando pousada em alguma coisa; na verdade, era raro que pousasse em alguma coisa, permanecia fixo nesse sonho interior perseguido indefinidamente nos campos (p. 43)
O livro me lembrou também uma conversa que tive com um amigo guineense sobre "mutilação masculina". Ele olhou-me com espanto, porque nunca tinha pensado que sua circuncisão poderia ser vista assim. Eu apenas estava utilizando o mesmo nome que dão ao que acontece com as meninas e que aqui chamamos mutilação feminina. Engana-se que os prejuízos são apenas de um lado. Esse assunto é para outro dia, não é? Não, porque eu não vou escrever sobre isso.
O livro é lindo, eu leria de novo, para uma criança, todo dia um pouquinho. Lembro do livro de Baba, que escrevi aqui e o de Thiong'o. Acho que gostei ainda mais desse. Recomendo demais. Uma vida fantástica e maravilhosa deveria ser coisa ordinária na vida das crianças todas do mundo.
Falei.
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