Terminei de ler o livro chorando, chorando. Quando Baba começa a falar sobre como saiu de onde vivia no Mali, em Kassaro e chegou em Portland, Estados Unidos, eu lembrei de mim. Um pensamento bobo me assaltou e eu achei que ele estava falando sobre mim, sobre tudo que passei quando fui para longe de casa.
É natural ter medo de algumas coisas, mas por favor, não fiquem apavorados para sempre (p. 39)
Nos últimos dias, tenho ouvido minhas escolhas e como pessoas que nunca me disseram nada sobre minha partida a viam, sem me perguntar como me senti. Aí foi que esse final de livro me pegou de jeito. O livro é uma história breve sobre a infância de Baba e sua relação com sua avó e também com sua mãe e comunidade. Apesar de ser breve, Baba escreve coisas lindíssimas, em poucas palavras, sobre a experiência de conviver com pessoas mais velhas, sobre a relação de sua comunidade com a natureza, coisas que me inspiraram a escrever um projeto de trabalho para este novo tempo que, segundo dizem, vai começar já, já.
Uma anciã sentada pode ver mais longe que um jovem de pé (p. 50)
Baba lembra de como aprendeu que sua mãe, que não vivia em sua comunidade e sim numa cidade grande perto de lá, era também considerada uma árvore, árvore esta que ele via sempre durante suas andanças ao redor de sua casa. Isso foi forte, me pegou por inteira. Eu amo mato e coisas que crescem na terra, que tem chão. Pode parecer estranho vindo de alguém que vive para lá e para cá, mas é assim mesmo, a vida é toda contradição, gostar de chão me lembra do meu medo de avião, eu vivo lá em cima e vivo com medo, vou com medo mas vou. Quem me dera ser árvore, um dia, para alguém.
As gravuras também são lindíssimas. Baba é artista plástico e tem um blog massa.
Lá no fim, Baba lembra algo que pode nos ajudar a entender o que vem a ser os termos feminino e masculino em sua comunidade. Sua mulher, Ronna, estadunidense, explicou como pensava a algumas de suas parentes e amigas, quando em visita à família de Baba.
Wagué, Ronna deve amar muito você. Se entendi bem, ela disse que os homens e mulheres deveriam ser iguais.
Ela tem razão, respondi.
Claro que você concorda, afinal é homem.
Ronna! - gritou Jelika e outra chamada Jeneba. Você não quer ser igual a um homem. Nenhuma mulher no mundo quer. Sabe porque? Porque eles sempre quiseram ser como nós.
Sim, exclamaram as outras, de pé atrás delas, soltando grandes gargalhadas. Superamos os homens em esperteza. Por isso temos orgulho de ser mulheres, mães de reis e aleijados, mães de ricos e pobres. Somos mulheres! (p. 126)
Nenhum comentário:
Postar um comentário