Numa das últimas viagens, comprei o livro A coisa à volta do teu pescoço. Achei que a tradução para o português de Portugal deu mais beleza à narrativa de Chimamanda, muito embora eu possa apenas estar de nariz torcido para a tradução da Companhia das Letras, que não publicou ainda esse livro, mas que na minha opinião, faz todos os outros livros dela parecerem iguais (essa é uma birra antiga, quando eu ainda nem tinha lido Chimamanda e sim a história de Henrietta Lacks).
Este é um livro de contos que gira em torno de histórias de doze mulheres.
Divididas entre dois continentes - África e América -, estas mulheres lutam por um lugar e uma identidade no mundo moderno mas também pela preservação dos valores da sua cultura de origem. Quer vivam no inferno de um país como a Nigéria ou num subúrbio aparentemente calmo dos Estados Unidos, elas não têm uma vida fácil. As ameaças que enfrentam podem ter origem na guerrilha ou no funcionamento de um forno microondas mas os seus dilemas contêm toda a história de um continente. (Extraído do site da Fnac.pt)
Gosto especialmente do penúltimo conto intitulado Casamenteiros, que conta a história de Chinaza, tornada Agatha quando decide casar-se com um homem nigeriano já vivendo nos Estados Unidos, que o tempo todo tenta ensinar-lhe os modos americanos e como deve esquecer da maior parte das coisas que deixou na Nigéria. Essa angústia de Chinaza é legítima e traduz o que a maioria das pessoas que saem de seus lugares sentem quando vão para longe. Muito embora essa angústia também apareça em outros contos e justamente naquele que dá nome ao livro, nesse conto, para mim, Chimamanda consegue ser mais honesta com relação aos sentimentos que, vá saber, eu também tenha sentido algum dia na vida.
O inverno apanhou-me de surpresa. Numa manhã, saí do prédio e fiquei sem fôlego. Era como se Deus estivesse a rasgar lenços de papel brancos e a atirá-los cá para baixo.
Esse jeito de escrever me faz ter vontade de que o conto nunca acabe, assim vou lendo aos pedacinhos, mas com vontade de saber o que tem na outra página. Sofro, mas é um sofrimento gostoso, como quando a gente aperta o dedo com aquele corte de dois dias atrás.
Se eu pudesse, teria lido o livro começando por esse conto, e depois passaria ao antes desse, chamado O Estremecimento, que conta a história de Ukamaka, sua separação com o namorado nigeriano que conheceu nos Estados Unidos quando estava a fazer o doutorado e sua relação de amizade com Chinedu, este também nigeriano.
Ele disse-lhe que se chamava padre Patrick e que a vida não fazia sentido, mas que todos tínhamos de ter fé, mesmo assim. Ter fé. "Ter fé" era como ser alta e bem-feita. Ela gostaria de ser alta e bem feita, mas é claro que não era: era baixa e não tinha rabo e aquela parte mole da sua barriga teimava em parecer um pneu de gordura, mesmo quando ela usava a cinta Spanx, com o seu material elástico que apertava. Quando ela disse isso, o padre Patrick riu-se.
- "Tenha fé" não é realmente como dizer "seja alta e bem feita". É mais como dizer: aceite que tem o pneu de gordura e que tem que usar a cinta Spanx - disse ele.
Divididas entre dois continentes - África e América -, estas mulheres lutam por um lugar e uma identidade no mundo moderno mas também pela preservação dos valores da sua cultura de origem. Quer vivam no inferno de um país como a Nigéria ou num subúrbio aparentemente calmo dos Estados Unidos, elas não têm uma vida fácil. As ameaças que enfrentam podem ter origem na guerrilha ou no funcionamento de um forno microondas mas os seus dilemas contêm toda a história de um continente. (Extraído do site da Fnac.pt)
Gosto especialmente do penúltimo conto intitulado Casamenteiros, que conta a história de Chinaza, tornada Agatha quando decide casar-se com um homem nigeriano já vivendo nos Estados Unidos, que o tempo todo tenta ensinar-lhe os modos americanos e como deve esquecer da maior parte das coisas que deixou na Nigéria. Essa angústia de Chinaza é legítima e traduz o que a maioria das pessoas que saem de seus lugares sentem quando vão para longe. Muito embora essa angústia também apareça em outros contos e justamente naquele que dá nome ao livro, nesse conto, para mim, Chimamanda consegue ser mais honesta com relação aos sentimentos que, vá saber, eu também tenha sentido algum dia na vida.
O inverno apanhou-me de surpresa. Numa manhã, saí do prédio e fiquei sem fôlego. Era como se Deus estivesse a rasgar lenços de papel brancos e a atirá-los cá para baixo.
Esse jeito de escrever me faz ter vontade de que o conto nunca acabe, assim vou lendo aos pedacinhos, mas com vontade de saber o que tem na outra página. Sofro, mas é um sofrimento gostoso, como quando a gente aperta o dedo com aquele corte de dois dias atrás.
Se eu pudesse, teria lido o livro começando por esse conto, e depois passaria ao antes desse, chamado O Estremecimento, que conta a história de Ukamaka, sua separação com o namorado nigeriano que conheceu nos Estados Unidos quando estava a fazer o doutorado e sua relação de amizade com Chinedu, este também nigeriano.
Ele disse-lhe que se chamava padre Patrick e que a vida não fazia sentido, mas que todos tínhamos de ter fé, mesmo assim. Ter fé. "Ter fé" era como ser alta e bem-feita. Ela gostaria de ser alta e bem feita, mas é claro que não era: era baixa e não tinha rabo e aquela parte mole da sua barriga teimava em parecer um pneu de gordura, mesmo quando ela usava a cinta Spanx, com o seu material elástico que apertava. Quando ela disse isso, o padre Patrick riu-se.
- "Tenha fé" não é realmente como dizer "seja alta e bem feita". É mais como dizer: aceite que tem o pneu de gordura e que tem que usar a cinta Spanx - disse ele.
Chimamanda Adichie
Mas, de qualquer modo, há alguma coisa em Chimamanda que me faz gostar menos dela e mais de Pauline Chiziane. Talvez tenha a ver com o lugar de onde ela fala, talvez eu prefire ouvir outras histórias e não apenas aquelas de mulheres que foram embora (ou tentaram ir) da Nigéria.
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