Eu prometo escrever pouco.
Há pessoas que viajam e adoram contar em detalhes todas as curiosidades. Eu mesma acho ótimo, quando vou viajar sempre checo esses blogs, leio e vejo o que me interessa, mas eu mesma não tenho paciência para explicar como funciona o bilhete de ônibus em Londres e qual a diferença entre comprar um diário e um para a semana inteira.
Sendo assim, pensei em anotações de viagens que pudessem trazer novidades sobre os assuntos que me tocam.
Quando cheguei em Lisboa, impressionei-me como os colonizadores portugueses fizeram Salvador muito parecida com o que eles tinham lá. Depois fiquei pensando como nosso povo aqui se apropriou tão bem de tudo que ficou com uma cara mais bonita e animada. As pessoas na rua, o sol, o clima, a vida, há vida.
Aí eu senti frio e tudo me desanimava, fiquei sem ver meu pé por muitos dias ou o via por alguns minutos, o tempo de tomar banho e enfiá-lo de novo dentro das meias... isso não é vida, eu preciso de sol para viver e sorrir todos os dias.
E como disse Petronilha Silva no parecer sobre a lei 10.639/03, a escravização não fez bem pra ninguém. A ideia de ser superior transforma alguns povos nas pessoas mais insuportáveis do planeta, o que fez com que alguns achassem que precisávamos de aulas de português para falar corretamente até quem oferecesse emprego na rua (em menos de cinco dias em Londres, me ofereceram um emprego de babá!), pelo simples fato de sermos brasileiras (negras, diga-se de passagem).
Madri, tudo cinza. Pelo menos para mim. Me disseram que gostaram de lá pelo clima no verão e porque dava pra ficar na rua. Mas isso tudo eu tenho bem aqui em Salvador. E de lambuja (o que muda tudo!) tenho acarajé.
Em Londres não vi criança na rua por umas oito horas. Só fui ver uma quando eu cheguei no bairro onde eu ia me hospedar, um bairro com uma população negra imensa. Do lado deste bairro, havia um outro com uma população negra vinda de países do PALOP, mas ali se concentravam basicamente negros e negras jamaicanos, nigerianos, enfim, muitos vindos de países colonizados pela Inglaterra. Criança branca eu só vi uma, com a mãe, num dos ônibus que peguei no centro da cidade. Quando falei isso com um rapaz negro que estava no segundo andar do ônibus comigo ele me respondeu:
School time
Como se isso explicasse o fato das crianças não se apropriarem da cidade.
Crianças negras eu vi muitas, durante os dias que passei lá. No bairro e também nas ruas, com pessoas mais velhas. Criança na rua com outras crianças? Nunca.
Londres é cinza também. Perguntei se no verão eu conseguiria usar uma tomara-que-caia ou um shortinho, gargalharam na minha cara. Verão sim, mas o sol não aparece nunca.
Em Paris, o número de pessoas negras é enorme. Tão grande que em Montmartre eu comecei a contar nos dedos os brancos que haviam por ali. Mas em Paris falar de raça é um tabu: não perguntam a cor das pessoas no censo do país, me disse uma amiga que tem um amigo francês. Seria ótimo saber qual a porcentagem da população negra da cidade, eu chuto uns 40 por cento, por baixo. Paquerei horrores. O mais legal era poder falar em português com minhas colegas e olhar para eles com a certeza que não entendiam nada.
Em Lisboa, também há muitos negros. Mas não entendi porque em Paris eles chamaram mais minha atenção. Em Londres também há. Falando isso, eu lembro que as pessoas que vem ao Brasil sempre dizem que há muitos negros aqui, mas não se vê na novela. Eu fiquei me perguntando porque falam isso do Brasil se em todas essas cidades que eu fui o número de negros e negras é enorme e a gente também nem sabe. Pimenta no dos outros é refresco.
Comida, comida. Eu comi mal em todos os lugares. Não sei o que as pessoas suspiram tanto quando viajam para o que chamam de Europa: come-se mal se você tem pouca grana, o que acontece com pessoas como eu com pouca grana e que troca uma moeda que vale três ou quatro vezes mais que a nossa. Assim, um prato de comida (quando se achava um lugar que vendia comida assim, como a gente come aqui - sem feijão) saía por 6 euro, o que dá quase vinte reais, valor que aqui no Brasil eu como MUITO bem. E nem vem me dizer que entrar em supermercado e comprar aqueles lanches empacotados individualmente na hora do almoço serve porque eu gosto de almoço. E almoço, comida típica dos países em que visitei, era coisa cara, pra lá de 20, 30 euro. Sai pra lá, não tenho árvore de dinheiro.
Mas o lugar pior de comer pra mim foi Londres. Eu realmente estou procurando coisas boas da cidade, além dos museus, que tem coisas saqueadas de todos os lugares do mundo que você possa imaginar. Eles tem a pachorra de colocar no Museu da Livraria Britânica documentos do Budismo! Pasme! Sem nenhum pudor. Poderiam fazer um Museu pro Shakeaspeare, mas não se contentam e enfiam no meio tudo que eles roubaram dos países que eles invadiram. Eu fui aos museus, mas não dou um real (que lá vale um quarto de libra...) para aquelas lembrancinhas com múmias desenhadas ou sarcófagos. Infelizmente, para ver essas coisas, é preciso ir a Londres ou Roma. Mas eu já decidi, uma das próximas viagens será o Egito.
Em Paris, tudo OK, metrô pra tudo que é lugar. Mas estações horríveis, que se fosse aqui no Brasil estaria todo mundo falando mal. E não foi só uma, foram várias estações completamente detonadas, remendadas, precisando de reparos sérios. Bom, mas who cares, o povo daqui vai pra lá e suspira na Tour Effel (eu olho para ela e me pergunto: quem construiu, quem botou aquelas vigas lá?). Puxei conversa com os ambulantes da cidade, conversei, falei com as pessoas, entendi mais coisas, aprendi demais com elas. Em Londres o metrô também é massa, mas se você não tem quase 50 reais por dia para usá-lo ilimitadamente, esqueça. Esse é o valor que você paga por um tíquete diário que combina trem e metrô. Tá bom pra você? O que deveria ser um transporte público acaba sendo um privilégio para poucas pessoas. E nem vem me dizer que 11 libras para eles é pouco. Esse valor é caro também para quem ganha um salário mínimo. Em Lisboa, também não chega a ser barato o valor do tíquete diário pra todos os transportes: 6 euro.
Em Lisboa e Paris, onde usei mais metrô, acessibilidade zero. Escadas que não tinham fim não ajudavam a imensa maioria de idosos que por lá vivem, o que me fez quase não ver cadeiras de rodas pela cidade.
Há uma migração intensa entre estes países, todo mundo querendo uma vida melhor. Muito parecido com o que a gente faz aqui no Brasil entre os estados, o que dá no mesmo, considerando que estes países são menores que muitos estados nossos... entre Lisboa e Londres é o mesmo tempo que eu levo de São Paulo para Salvador. Nessa lógica, muito português desempregado vai pra Londres! Nada mais óbvio, se você vai ganhar em libra, que custa mais que o euro. Aí o pessoal diz que "quando você vai pra Europa, é massa porque você conhece vários países". Mas é óbvio, os países são próximos! Não tem nada a ver com "lá eles são multiculturais". Balela. Muito deslumbre pra pouca coisa.
Dessa galera, quem mais teve um discurso xenofóbico foi a senhora dona da casa que a gente ficou hospedada em Paris. Ela não conseguia falar uma frase inteira sem falar "cuidado com os árabes", "os gitanos são um problema" e coisas do tipo.
A verdade é que eu vou aos lugares querendo ver outras coisas, não as igrejas e os monumentos históricos das guerras ou das invasões. Eu quero só estar ali e ver as coisas acontecerem, só que para isso eu preciso de mais tempo. Por isso, não me desespero em fazer roteiro de turista, me agrada muito mais conhecer um migrante dono de um restaurante de comida turca do que fazer selfie no Arco do Triunfo. Mas todo mundo tem um sonho, vamos respeitar.
Não tenho mais nada para comentar. Viagens são viagens, aprendemos coisas. Mas ainda estou procurando o encantamento que as pessoas tem por essas cidades. Eu vi pessoas, pessoas como eu, em transito pelo mundo procurando coisas, e é com elas que eu sempre acabo voltando pra casa.
Comida, comida. Eu comi mal em todos os lugares. Não sei o que as pessoas suspiram tanto quando viajam para o que chamam de Europa: come-se mal se você tem pouca grana, o que acontece com pessoas como eu com pouca grana e que troca uma moeda que vale três ou quatro vezes mais que a nossa. Assim, um prato de comida (quando se achava um lugar que vendia comida assim, como a gente come aqui - sem feijão) saía por 6 euro, o que dá quase vinte reais, valor que aqui no Brasil eu como MUITO bem. E nem vem me dizer que entrar em supermercado e comprar aqueles lanches empacotados individualmente na hora do almoço serve porque eu gosto de almoço. E almoço, comida típica dos países em que visitei, era coisa cara, pra lá de 20, 30 euro. Sai pra lá, não tenho árvore de dinheiro.
Mas o lugar pior de comer pra mim foi Londres. Eu realmente estou procurando coisas boas da cidade, além dos museus, que tem coisas saqueadas de todos os lugares do mundo que você possa imaginar. Eles tem a pachorra de colocar no Museu da Livraria Britânica documentos do Budismo! Pasme! Sem nenhum pudor. Poderiam fazer um Museu pro Shakeaspeare, mas não se contentam e enfiam no meio tudo que eles roubaram dos países que eles invadiram. Eu fui aos museus, mas não dou um real (que lá vale um quarto de libra...) para aquelas lembrancinhas com múmias desenhadas ou sarcófagos. Infelizmente, para ver essas coisas, é preciso ir a Londres ou Roma. Mas eu já decidi, uma das próximas viagens será o Egito.
Em Paris, tudo OK, metrô pra tudo que é lugar. Mas estações horríveis, que se fosse aqui no Brasil estaria todo mundo falando mal. E não foi só uma, foram várias estações completamente detonadas, remendadas, precisando de reparos sérios. Bom, mas who cares, o povo daqui vai pra lá e suspira na Tour Effel (eu olho para ela e me pergunto: quem construiu, quem botou aquelas vigas lá?). Puxei conversa com os ambulantes da cidade, conversei, falei com as pessoas, entendi mais coisas, aprendi demais com elas. Em Londres o metrô também é massa, mas se você não tem quase 50 reais por dia para usá-lo ilimitadamente, esqueça. Esse é o valor que você paga por um tíquete diário que combina trem e metrô. Tá bom pra você? O que deveria ser um transporte público acaba sendo um privilégio para poucas pessoas. E nem vem me dizer que 11 libras para eles é pouco. Esse valor é caro também para quem ganha um salário mínimo. Em Lisboa, também não chega a ser barato o valor do tíquete diário pra todos os transportes: 6 euro.
Em Lisboa e Paris, onde usei mais metrô, acessibilidade zero. Escadas que não tinham fim não ajudavam a imensa maioria de idosos que por lá vivem, o que me fez quase não ver cadeiras de rodas pela cidade.
Há uma migração intensa entre estes países, todo mundo querendo uma vida melhor. Muito parecido com o que a gente faz aqui no Brasil entre os estados, o que dá no mesmo, considerando que estes países são menores que muitos estados nossos... entre Lisboa e Londres é o mesmo tempo que eu levo de São Paulo para Salvador. Nessa lógica, muito português desempregado vai pra Londres! Nada mais óbvio, se você vai ganhar em libra, que custa mais que o euro. Aí o pessoal diz que "quando você vai pra Europa, é massa porque você conhece vários países". Mas é óbvio, os países são próximos! Não tem nada a ver com "lá eles são multiculturais". Balela. Muito deslumbre pra pouca coisa.
Dessa galera, quem mais teve um discurso xenofóbico foi a senhora dona da casa que a gente ficou hospedada em Paris. Ela não conseguia falar uma frase inteira sem falar "cuidado com os árabes", "os gitanos são um problema" e coisas do tipo.
A verdade é que eu vou aos lugares querendo ver outras coisas, não as igrejas e os monumentos históricos das guerras ou das invasões. Eu quero só estar ali e ver as coisas acontecerem, só que para isso eu preciso de mais tempo. Por isso, não me desespero em fazer roteiro de turista, me agrada muito mais conhecer um migrante dono de um restaurante de comida turca do que fazer selfie no Arco do Triunfo. Mas todo mundo tem um sonho, vamos respeitar.
Não tenho mais nada para comentar. Viagens são viagens, aprendemos coisas. Mas ainda estou procurando o encantamento que as pessoas tem por essas cidades. Eu vi pessoas, pessoas como eu, em transito pelo mundo procurando coisas, e é com elas que eu sempre acabo voltando pra casa.
2 comentários:
Porra. Eu acho Lisboa bonita pra cacete, quero muito voltar lá. Achava lindo aquele quase anoitecer, que lá ainda demorava. Aquela região perto da Pça Camões, que lugar bonito.
Mas é isso, eu gosto de arquitetura e prédios e catedrais. Gosto mesmo. O que não largo um peido pras praias e montanhas, piro em cidades.
O lance do transporte público em geral é que você não se sente roubado. Existem horários e os funcionários são prestativos. A coisa serve pra você se locomover. Não achei as passagens caras, caro eu acho ônibus em PoA custar mais de 3 reais. Uma cidade muquifa dessas, ônibus patéticos, cobrar a mesma passagem do Rio? Coé?
Lisboa, bonita? Eu não acho, quer dizer, não vi nada além. Nada demais. Tudo que meus olhos já tinham visto cópias por aqui. Nada demais. Mas tem a ver com você pirar em cidades, eu não. Por isso, comparando com outros lugares, Lisboa é mais bonita sim. Mas para mim, não.
Não se sentir roubado no transporte público? Oxe, eu me sentia espoliada, achacada, tudo que você achar que roubo pode ser além do que ele já é. Não significa que porque funciona que tem que ser caríssimo. Sim, caríssimo. Locomoção é e sempre vai ser um problema em sociedades onde esse direito precisa ser cerceado para controle da população. Assim, quando funcionar dentro do esperado, vai ser caro. Quando não funcionar, vai ser menos caro, e assim, de um jeito ou de outro, vai obrigar as pessoas a ficarem em casa.
É caro aqui, é caro lá. É o que eu acho. Você está pensando em pessoas que tem dinheiro para se locomover, eu estou pensando em pessoas que contam moedas.
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