O professor me pega. Ele fala pro moço que dança comigo que eu não devo conduzir nada, que estou ali para ser conduzida. Olho para ele com ímpetos de voar no pescoço e esganá-lo, afinal, ele me conhece há apenas um mês e acha mesmo que pode dizer o que eu posso fazer ou o que podem fazer comigo.
Respiro fundo, mas percebo que, quando danço com ele, ele precisa de muito esforço para me levar. Eu não deixo, eu não me deixo ser levada. Ele me diz para sentir a música, sentir meu corpo. E eu, que pensava ser muito "resolvida" com tudo isso, descubro que preciso aprender um pouco mais.
Mais sobre mim. Entrar em uma aula de dança, definitivamente, não é apenas para aprender a dançar. Nada é só o que parece. Quando eu pensei em fazer dança, nem era nessa aula. Mas, por conta de meu calendário estes meses, encarei dança de salão, para não ter que esperar quando teria tempo para dança contemporânea, que é a a aula que eu quero fazer. Nunca pensei que ia descobrir tanto sobre mim mesma, precisamente, nessa aula.
O moço que me acompanha na aula é um docinho (vocês sabem o que significa para uma mulher negra quando ela diz que o homem é um docinho? Ok, pesquisem sobre isso). O professor pede para ele me conduzir, mas ele fica sem jeito, acho que o meu jeitão de "nem pense nisso", deixa ele assim, receoso. Por algumas vezes, quando o professor dá o comando para ele, eu executo. Tudo isso porque ser conduzida é uma coisa estranha pra mim.
Não tem como. Eu vou me mostrando na aula inteira, em como não gosto ou gosto disso e daquilo.
Mas é só uma aula, e eram pra ser só dois meses nessa aula.
Não era para tanto. Era só aprender a dançar, o professor fala para eu não tirar os olhos dele e eu, que acho lindo encarar as pessoas de frente, fico sem jeito de olhar nos olhos dele o tempo inteiro, me atrapalho com os pés. Ele fica numa boa, faz isso todos os dias com muitas pessoas. Olhar nos olhos é parte do trabalho dele. Por isso, numa aula de dança você não aprende só a dançar.
Eu sempre acho massa começar a aprender uma coisa nova. Penso sempre nas crianças e em como elas encaram novas experiências todos os dias e, estar numa posição de aprendiz me dá mais sensibilidade, para entender como elas se sentem, como se sente qualquer pessoa que está aprendendo. Confesso que, com o passar do tempo, utilizando essa técnica para me tornar mais sensível, acabei achando que já sabia tudo sobre como ser aprendiz. Mas, mais uma vez, me peguei descobrindo como ainda sei muito pouco sobre mim mesma em muitos aspectos.
Saio da aula cheia de ideias. Em como é bom poder conhecer meu corpo e como o que eu penso "dita" o como do meu corpo. Ainda não sei muito sobre isso, estou experimentando. E entendendo como a gente, mesmo sabendo que não sabe tudo, endurece tanto e chega num ponto que acha que o que sabemos é suficiente. Bobagem. Nunca vai ser suficiente. Há sempre alguma coisa para aprender que vale muito a pena. E que muda muito o modo como nos vemos e vemos as outras pessoas.
2 comentários:
Lendo...
Como você disse, não é só "aprender a dsnçar". Penso que pode ser também, se deixar levar ao sabor de algumas situações. Sair da retranca, quem sabe. Ficar mais leve.
É apenas um dos modos que vemos essas situações.
Um beijo
@azulrasgado
http://invanillasky.blogspot.com
muito interessante... obrigada para compartir as tuas experiências! faz agente refletir ;)
beijos
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