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sexta-feira, abril 06, 2012

Histórias (de amor).

Eu faço natação na mesma academia fazem cinco anos. Parece pouca coisa, mas muito aconteceu desde que entrei. É uma academia pequena, que fica num bairro próximo ao meu, e os donos e donas são as mesmas que gerenciam o negócio. Coisa de família. O professor que me dá aula é casado com a filha do dono. Na verdade, ela é mais dona que o pai, junto com as duas irmãs.

Quando eu entrei lá, eles ainda namoravam. Depois, ficaram noivos. Casaram faz mais ou menos dois anos e meio. Acompanhei toda essa trajetória, e acompanhei também a gravidez da moça, complicada. Agora, um filhotinho nasceu, todo sorrisos e alegria. Tem quase dois anos e não para. Me diverte o tempo inteiro enquanto espero a hora de nadar.

Fico meio boba e emocionada com meu professor contando as histórias e peripécias de seu filho. A última foi quando ele comeu um caramujo. Moram numa casa com quintal grande e, sempre que possível, lá está ele sujando-se de barro e comendo coisas que mexem e saem da terra. O pai ri, me contando que ele nunca para, me contando as técnicas que eles estão desenvolvendo para acalmá-lo quando ele está elétrico demais, tudo em vão. Ouço embevecida, ouço feliz. Ele conversa muito. Comigo e com todas. Brinca, faz gracinha, sabe o jeito certo de falar as coisas e não parecer demais ou de menos.

Sempre achei fantástico o modo como a mulher dele lidou com as pessoas no trabalho, com ele. Nesses cinco anos, nunca vi uma briga sequer dos dois na frente de todo mundo, nem fumaça de briga, nada. Ela, ela mesma, nem sabe nadar. Não quer conta. Administra muito bem as coisas da academia, mas nunca entrou uma só vez na água nesses cinco anos que estou lá, e olha que eu vou em todos os horários possíveis.

Nunca consegui mudar de academia. Pode não ser a "melhor" do bairro em infra-estrutura, mas é a única, me contam meus colegas, em que eles se sentem bem. Eu nem arrisco em comparar. Talvez por ser gerenciada pela família toda, é pequena, mas aconchegante. Me sinto bem lá e, vez por outra, faço-os rirem quando digo que vou lá para bater papo e não para fazer exercício, porque pagar natação sai mais barato que pagar sessão terapêutica. Somos uma família, mesmo que seja só por algumas horas durante a semana. Minhas colegas de natação (colegas também) entraram no espírito da coisa e passamos a aula dando risadas. Claro que tem os mais sérios, mas esses não importunamos. O professor também sabe conduzir de modo que pessoas "sérias" não se sintam afetadas (prova é que elas continuam indo no mesmo horário), e que a gente continue dando muitas risadas.

Destes colegas de natação, há um que tinha 13 anos quando eu entrei. O rapaz, agora com 18 anos, me assusta. Cresceu demais, e cruza a piscina em menos de um minuto (ou será meio?) facilmente. Constantemente olho para ele e dou risada, lembrando quando ele era só um molequinho, quase um girino. Ele diz lembrar-se de mim também. Disse que sabe as cores de todos os maiôs que usei. Me divirto. Engraçadinho.

Conheço também a mãe do professor. Uma senhora apaixonante. Conversamos por horas quando fazemos hidroginástica juntas. Ela é migrante de uma cidade do interior do Ceará. Faz tempo que não a vejo.

Fico feliz de poder conhecê-los. O casal. E não estou falando de traição, brigas e tristezas. Desentendimentos. Acho que tem tudo isso ali. Mas, acima de tudo, parecem duas pessoas que sabem que querem muito ficar juntas, aconteça o que acontecer. Acho que é isso que faz deles personagens de uma história de amor.



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