Cena 01:
Rio de Janeiro, Tijuca. Quero trocar um dinheiro, chego à banca. Morando em São Paulo há alguns anos, tenho receio de pedir assim, de cara, "troca pra mim?". Dois homens brancos de meia-idade conversando, um deles é o dono da banca de revista. Pergunto se tem cartão postal. Diz que não e me diz onde tem. Faço cara de preguiça e digo que é longe, do outro lado da rua. Digo que quero trocar o dinheiro. Ele diz, mas isso é fácil. E me estende a mão, pede o dinheiro. O outro moço branco está com cara de simpático.
Cena 02:
São Paulo, Pinheiros. Depois de um dia cheio e trens que não passavam nunca, volto para casa. As pessoas conversam no celular, contam da demora do trem, se irritam. Eu não estou tão chateada, as cinco cervejas com as amigas me deixaram mais falante e sorridente. Mas, tenho sono. Um rapaz entra no trem para vender balas. Ele está irritado, como as pessoas. Pragueja o tempo inteiro porque não conseguiu vender nada nos últimos três vagões que entrou. Implora que alguém compre. Diz que não está pedindo, diz que está vendendo e que normalmente as pessoas enfiam a mão no bolso e pagam com gosto o triplo do valor, pela mesma bala no shopping, mas se recusam a comprar e ajudá-lo. Silêncio no trem. Ele também fica em silêncio. Depois volta, a mesma conversa. As pessoas incomodam-se e uma moça pede algumas balas. Ele diz até que enfim e aí, todo o estresse represado vira uma gargalhada abafada. Mas o moço, esse continua irritado.
Quando desço, ouço a moça que estava ao meu lado contar para o segurança do trem que o moço vendia balas. Segundo a lei do trem, isso não é permitido.
Grandes cidades.
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