Você que me lê, me ajuda a nascer.

domingo, agosto 22, 2010

Viagem.

Um monte de dias sem escrever nada, só falando e ouvindo coisas bonitas. A vida também é feita disso. A vida também é feit-iço.
Andando na rua eu ouço coisas que sinto muita vontade de escrever, sempre. Fico me perguntando se todo mundo ouve as mesmas coisas que eu ouço do jeito que eu ouço ou sou só eu no mundo inteirinho que deus deu que entende as coisas desse modo.
Algumas coisas me deixam triste. Ando nas ruas, nas cidades, procurando os negros e as negras e sempre as/os encontro em maior número, em posições subalternas: lavadores de carros, guardadores de carros, seguranças, garçonetes, lavaderas, passadeiras (em Maceió vi uma senhora que às 23 horas levava para casa um fardo de roupa limpa para passar; esperava o ônibus no ponto, em frente a um condomínio de luxo. Fiquei pensando nas desumanidades todas do mundo e o que fazia a dona das roupas não ter o mínimo de sensiblidade para pelo menos, com seu carro, levar as roupas na casa da senhora, já de idade, sozinha no ponto de ônibus), quituteiras (em São Luís uma senhora de idade também passa por mim vendendo doce com o tabuleiro na cabeça, a foto seria incrível mas a tristeza não deixava tirar, fico pensando por que que tem sempre que ser ela, a mulher negra, por que que tem que ser ela, a guerreira, enquanto para todas as outras mulheres, os adjetivos são outros e não ligados à força e coragem), engraxates, moradores/as de rua. Mas não era bem assim em fins do século 19?
Em todas as cidades por onde passei, essa coisa se repete e vou ficando desanimada de viver. Mesmo em cidades onde o número de negros e negras é significativamente maior (e a gente bem sabe que muitas cidades, apesar de ter um grande número de negros e negras, não revela isso nas pesquisas simplesmente por que muita gente ainda não "descobriu" de que cor é), os negros e negras estão sobrerepresentados em posições vistas como inferiores (por que eu não acho que ser passadeira seja inferior, mas é se elas ganhassem 20 salários mínimos, seria bem bom passar roupa por aí. Mas essa ideia de separar "trabalho manual" de "trabalho intelectual" é coisa ocidental).
De viver.

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