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sexta-feira, março 23, 2007

Ela.

Fala então aquele que escrevinha sobre a beleza, Pascal Bruckner: Com aparência de Betty Boop - com seus pomos salientes, sua boca polpuda e suas formas generosas-, Scarlett Johansson desafia todos os modelos de beleza. (...) Se fosse só bonita, atrairia o que a beleza suscita, em geral: fascinação e inveja. Mas, justamente, ela desarma a agressividade com uma aparência bem neutra. Em seus filmes, no começo não prestamos atenção nela, mas depois a loirinha se impóe, invade a tela. Ela tem essa capaticade indicativa das verdadeiras personalidades: a discrição. Nada de espetacular, só um interior que irradia pouco a pouco e acaba por perturbar. Se fosse preciso caracterizá-la, eu diria o seguinte: ela oscila sempre no limite entre beleza e insignificância, vulgaridade e distinção, maturidade e juventude. Às vezes, seu rosto se apaga, para renascer luminoso, destruidor. É um caleidoscópio vertiginoso de todas as figuras de mulher: vamp, criança, menina, pin-up, lolita, intelectual, passando de uma a outra com piruetas que cortam a respiração. Uma mulher que pode ser todas as mulheres numa única, e que as declina sem esforço aparente. Sempre outra, algumas vezes irreconhecível, adquirindo uma capacidade de transformação que beira o feitiço. Seus defeitos contribuem para seu encanto, constituindo outros fatores de multiplicaão. Sabendo que o pudor é o melhor alimento da fantasia, ela evita de se despir diante das câmeras. Tem inclusive habilidade de conseguir, de diretores tidos como difíceis, que eles compensem sua anatomia explosiva com um certo ponto de partida intelectual. Aí, falou e disse.

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