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quarta-feira, janeiro 11, 2006

Mecânicos, ora pois.

O nome dele soava estranho, mas grudava na cabeça, no meu corpo, língua. Eu nem ouso escrever aqui, você vai ler e também vai viciar no jogo. Começou assim, a história dos nossos nomes, e depois de um tempo eu já tinha entregado todo o ouro. Ele me disse que era mecânico de scooters. Assim mesmo, esse nome difícil. Não queria falar "mecânico de vespas", e ouvir as mesmas piadas de sempre. Scooters? Ah, aquelas motinhas? Ele ficou meio chateado.
Começou errado. Começou assim. Mas eu gostei, e quis mais. Sem querer, sabe? Sem dizer pra ninguém, muito menos pra ele, não era o cara que eu sonhava, apesar de não estar sempre sujo de graxa ou coisa parecida, ele definitivamente não era o tipo de cara por quem eu me apaixonava. A minha vida inteira haviam sido dois ou três, mas todos eles seguiam uma lógica muito regular. Aconteciam sempre no começo de alguma estação, durava algumas tantas, mas era batata. A outra paixão viria em estação diferente, ano par, se o anterior tivesse sido ímpar. Nunca fui de ficar fazendo essas contas, até quando minha irmã me escreveu um bilhetinho me chamando de "Mulher do Tempo". Achei graça, mas não tinha entendido. Dias depois, precisei telefonar-lhe, e sem querer, perguntei se estava chovendo em Washington. Ela me respondeu dizendo que tudo dependeria do meu novo amor. E aí me explicou que acompanhava, passo a passo, as datas e temporadas dos meus romances, assim, como quem colecionava botão de camisa ou papel de bala.
Mas agora era fora do tempo. Da estação. Não que isso causasse medo pra mim. Minha irmã se perdeu nas contas, e eu me envolvi ainda mais, talvez por sentir que estava, de algum modo, transgredindo. As flores do outono morreram no frio, e ele vinha de um lugar invernal, fechado, onde as pessoas usavam mais roupa do que poderiam carregar se o sol aparecesse. As scooters continuavam sendo o motivo da vinda dele para um lugar assim quente, infernal, por mais engraçado que isso parecesse. Por isso, nunca me atrevi a falar em casamento. Eu nunca fui louca. A não ser por mentirosos mecânicos de scooters.

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