Eu sempre achei que o diálogo fosse um lugar seguro e confortável onde todas as coisas se resolveriam. Eu criei essa ilusão que o diálogo ia sempre salvar as coisas. Sempre. Eu achava que o diálogo era um lugar onde todas as pessoas queriam chegar e ficar. Mas, não.
Todas as certezas que a gente tem são apenas invenções da nossa cabeça. Eu não queria ver que o diálogo não existe como um lugar alheio à nós mesmas, alheio ao mundo que criamos aqui perto da gente. Eu não queria ver, eu queria fingir e sustentar essa ideia porque ela me fazia muito bem, era gostoso pensar que quando a gente chegasse no diálogo, todos os nós iam se desmanchar.
A dureza toda é que o tempo passa, você cresce e encontra pela vida gentes que não querem, não sabem ou, diferente de você, não acreditam que precisam do diálogo para seguir vivendo. Não sei se bem são todas essas coisas, mas é certo que essas gentes não querem chegar em lugar nenhum chamado diálogo. Talvez essa invenção do lugar chamado diálogo só poderia acontecer numa cabeça controladora como a minha, com essa ilusão que "tudo que você quer vai acontecer", basta você se predispor a isso, se colocar disponível.
Não.
As coisas que você quer não vão acontecer só porque você está disponível. Estar disponível ajuda muito que elas aconteçam, mas não é determinante. A vida vem e te dá uma baita de uma rasteira, uma rasteira nessa sua ideia muito estúpida de que só porque você é uma mulher adulta, lúcida e inteligente, vai conseguir tudo que quer. Meritocracia não é real, gente, ninguém merece nada, nem vai conseguir nada só porque acha que merece. É isso.
Eu falei da dureza, mas quero falar da beleza também. Saber que um lugar chamado diálogo não existe faz você se libertar de situações e eventos em que você sofreu pensando que poderia fazer mais, conversar mais, dizer mais. Aqueles momentos em que você achou que era responsável por tudo ficar bem, porque você acredita no diálogo e a outra pessoa está cagando para ele. Nem sempre fazer tudo que está ao seu alcance vai garantir resolver o problema, fazer tudo ficar bem. Eu não estou dizendo aqui que você não tem de tentar. Não é não tentar, é ter certeza que pode não acontecer nada do que você está esperando, mesmo com todo o seu esforço. Chegar nessa compreensão, conhecer qual é o limite entre a ilusão do lugar chamado diálogo, sua disponibilidade em mudar coisas e qual é a participação de tudo o mais que te cerca (pessoas, lugares, ambientes, coisas e eventos) é a coisa mais preciosa nessa conversa aqui.
Depois de tudo isso, acho que o diálogo pode ser mais um bonde do que o um lugar, sabe? O diálogo é uma passagem ou um passaporte para chegar onde a gente quer muito com a outra pessoa ou com as coisas. Mas... essa passagem pode estar vencida, pode ter sido comprada para o lugar errado, pode estar rasgada... e aí, não vai rolar. Levar em consideração que para ter diálogo é preciso haver no mínimo duas pessoas querendo estar dentro de uma relação conversando sobre coisas que podem ser difíceis para as duas parece óbvio (e eu nem vou entrar no tópico de "pessoas que fingem querer ou gostar de conversar" aqui)mas, para mim, que acho que mando em tudo que acontece comigo, foi uma revelação.
Tou numa paz por conseguir dizer tudo isso em voz alta para mim hoje que nem sei.