Foi quando um colega perguntou se eu não poderia ficar calada é que eu percebi que o machismo tinha chegado na amizade. Eu já tinha notado antes, em outras coisas, mas assim, diretamente comigo, foi quando ele achou que eu não deveria expressar o que eu sentia e só ele poderia falar o que pensava. E olha que o que irritou ele foi a expressão "digo o mesmo para você".
Eu me sentia especialmente ofendida com as grosserias dele com o mundo e com a companheira dele, reclamava das escolhas que fazia com a filha - porque se eu não gosto, eu vou falar para você e não para outra pessoa - mas ainda não tinha me tocado que tudo aquilo ali era o orgulho macho gritando dentro dele.
Deve ser difícil conviver com uma mulher que não precisa ficar calada, que pode dizer o que quiser, sem medo de passar fome ou não ter onde morar. Deve ser difícil quando essa mesma mulher não se importa de romper laços de amizade com você quando você assim deseja, alegando que é o melhor a fazer, já que ela disse algo que você não gostou.
Eu fico pensando, se nós mulheres pretas deixássemos de falar com todo mundo que fala uma coisa que a gente não gosta, não estaríamos falando com mais ninguém.
Me deixe, viu?
Uma amiga perguntou se a gente sente o que sente do mundo porque a gente é feminista. Eu disse que pode ser isso, mas acho que é mais ainda por ser preta. Por ser preta e poder não ficar calada quando muitas de nós não podemos, quando eu mesma já calei, isso me faz não parar de falar. E nem de escrever.
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