Você que me lê, me ajuda a nascer.

quinta-feira, dezembro 01, 2016

Deus salve a criança, Toni Morrison.


Este livro ainda não está disponível no Brasil, mas não demora sair. Toni é brocativa e tem sempre edição brasileira. Basta esperar um pouco. 
Não é o livro de Toni que mais amo, mas amo Toni e sou fiel aos meus amores literários. 
Inicialmente, o livro me levou a pensar que não gostaria dele, já que tratava de pedofilia, um tema que sobre o qual não me interessa ler. Mas para minha surpresa, o livro fala disso, mas não é SOBRE ISSO, se é que eu consigo ser clara sobre o livro sem falar do texto.  
Sua escrita revira minha cabeça e é de longe minha escritora preferida. Eu amo Toni porque ela me conhece e, ao escrever, me faz conhecê-la também. Eu a sinto como se fosse da minha família e acho que se a encontrasse na rua, eu diria, "Oi, Toni, porque você não aparece lá em casa?". 


O livro trata da história de Bride, que não consegue ser amada pela mãe Sweetness porque sua pele é "negra como a noite, negra do Sudão". Entendemos então que a cor da pele é a superfície onde se escondem os motivos pelos quais Sweet não ama incondicionalmente Bride; é também por causa de um pouco desse amor que Bride acaba por mentir sobre um assunto que muda a vida de outras pessoas, também negras, e acaba por afastar outras pessoas que a amam.

Toni nos apresenta então não um círculo viciado de histórias de (des)amor e sofrimento, mas uma história - ou várias - espiraladas de sentimentos, em que conhecemos outras personagens que são feitas de amor, violência, solidão e medo. Como em outros livros, Toni usa seu estilo polifônico para fazer surgir as vozes que muitas vezes ficam submersas em outros textos centrados em uma ou duas protagonistas. A ligeira confusão que pode-se ter ao ler seus livros e que nos faz voltar algumas páginas e confirmar nomes e lugares pode ser a chave para tornar essa autora alguém que consegue ser tão profunda mesmo num livro com 160 páginas. Ao voltamos as páginas, nos enredamos mais ainda nas histórias, descobrimos paralelos, aprendemos sobre nossa gente. Ao lermos novamente, a história nos pega, nos envolve, não nos larga. Toni é retada. 

Agora, escrevendo sobre o livro, eu acabei por descobrir que eu o amo mais do que eu pensava. São assim os bons livros.

Há alguns dias, ganhei outro livro de Toni, este chamado Love e já publicado no Brasil (Amor, Companhia das Letras, 2016). Emocionei-me com o presente porque ele veio de alguém com quem construí uma relação que, tenho certeza, é de amor.

Como diz Dona Noi, 'vida deus me dê' para ler todos os livros de Toni. 

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