Capa do livro de Noviolet.
Eu gosto de livrarias e bibliotecas, fuçando e a gente encontra coisa boa demais da conta. Passei caçando livros de autoras que eu não conhecia e fora do eixo europeu clássico, me bato com o livro Precisamos de novos nomes de Noviolet Bulamayo. Li a sinopse e vi a história de uma menina do Zimbábue que ia pros Estados Unidos (como alguns outros livros que eu já tinha lido e comentado aqui), torci o nariz mas comprei assim mesmo.
Noviolet Bulamayo
O nariz teve de destorcer. Não havia entendido que a história era de Darling e sua trupe ainda no Zimbábue e que depois ia para os EUA. Aí tudo mudou de figura e Noviolet virou minha escritora de 2015. Ela escreve das crianças como criança, o que me fez apaixonar. As conversas, o tempo, as amizades, Noviolet consegue me fazer fechar os olhos e lembrar dos sonhos que eu tinha quando ainda era uma menininha de nove anos, do cheiro de jaca no quintal de casa, do abacate com açúcar ainda dentro da casca, das brigas com minha irmã, dos sonhos de "quando eu crescer eu vou".
Passagens como
Ninguém sabe onde o corpo do meu avô está. Então, agora o pessoal da igreja diz que o espírito dele está dentro de mim e não vai sair até ele ser enterrado direito. O problema é que eu mesma nunca cheguei a ver ou sentir o espírito para saber se é verdade ou se as pessoas estão só mentindo, o que os adultos fazem às vezes só porque são adultos. (p. 26)
Depois da cortina fica o calendário; é velho, mas a Mother of Bones guarda porque tem Jesus Cristo ali. Ele tem cabelo de mulher e está sorrindo, tímido, a cabeça inclinada um pouco para o lado; dá para perceber que realmente queria ficar bem na foto. Ele antes olhos azuis, mas pintei de marrom assim como os meus e os de todo mundo, para que ele ficasse normal. (p. 28)
Ela (Mother) já está cantando sua canção favorita da igreja, a que ela sempre canta quando começamos a subida. Ela canta errado, porque não sabe todas as palavras em inglês, porque não fala inglês direito porque não foi à escola, mas não corrijo porque você não pode dizer nada aos adultos. (p. 34)
estão pelo livro inteiro. E no capítulo Como eles foram embora, Darling descreve pungentemente sua ida para os EUA. No outro capítulo ela já está lá, com os tios. Sem mais, doído assim.
Olhe para eles indo embora aos bandos, os Filhos da terra, olhe só para eles indo embora aos bandos. Os que não tem nada estão cruzando fronteiras. Os quem tem ambições estão cruzando fronteiras. Os que tem força estão cruzando fronteiras. Os que tem esperança estão cruzando fronteiras. Os que sofreram perdas estão cruzando fronteiras. Os que sentem dor estão cruzando fronteiras. Caminhando, correndo, emigrando, indo, desertando, andando, abandonando, fugindo, escapando, - para toda parte, para países próximos e distantes, para países de que nunca se ouviu falar, para países cujos nomes não sabem pronunciar. Estão indo embora aos bandos. (p. 131)
A lindona Noviolet.
Ah, só pra dizer: Bulamayo é a segunda maior cidade do Zimbábue.
Em tempo: a editora podia ter copiado a capa mais bonitinha do livro e não essa com um avião e com a palavra romance escrita. Oxe, precisa dizer? Nem sei se é romance...
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