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quinta-feira, setembro 18, 2014

Uma menina de dez anos.

Estava no metrô, linha amarela em São Paulo. Uma menina de pé e uma moça que parecia sua avó. Elas conversavam animadas. Negras (ou pelo menos para mim eram, tenho um colega que disse que eu tenho mania de empretecer os outros. Cor/raça é auto-declaração).
Eu sempre presto atenção na conversa dos outros. Se tiver criança no meio, mais ainda. Sempre mais. 

A menina começou a contar uma piada. 
A piada era sobre um bebê branco e um bebê negro. Era uma piada racista. Ela sabia que não era uma coisa legal, porque quando foi falar a cor do bebê negro, cochichou no ouvido da avó. Isso me fez prestar mais atenção ainda em tudo. Ela sabia o que estava fazendo.

No final, o bebê negro se assustava quando o médico dizia "arrota", numa clara alusão à polícia. A avó demorou de entender, pensei que estava preparando um discurso sobre não fazer piadas racistas. Mas acho que ela não havia entendido. Quando entendeu de verdade, começou a rir e não parou mais, mesmo depois de descer do metrô. Eu não sabia onde enfiava a cara, mas continuei observando, do jeito que podia.

A menina ria, e parecia não entender porque a avó ria tanto, mas gostava da gargalhada dela e assim repetia: "Arrota,  A ROTA". A avó ria, ria e depois eu fiquei pensando como o som daquela gargalhada poderia facilmente se transformar num grito de angústia e agonia.

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