Comecei a ler uma pequena biografia de Bessie Smith (Bessie Smith: Imperatiz do Blues, por Elaine Feinstein. Editora José Olympio, 1989) que ganhei faz muitos anos, junto com um cd seu, de um amigo que não vejo e com quem não falo há muito tempo. A autora diz que nada em sua infância a ajuda a compreender o que significava ser negra e pobre como Bessie foi quando criança. Ela diz que a própria Bessie, se a encontrasse pela rua naquela época, poderia ter antipatizado com sua pele branca, seu rosto comprido e corpo magricela. Mas, diz Elaine Feinstein, ela gostaria de dizer à Bessie que a voz dela tinha dado-lhe coragem.
Apesar de curta e não tão bem escrita, me agrada algumas passagens do livro. Elaine diz:
Para fazer sucesso no mundo do entretenimento da época, as maiores desvantagens de Bessie eram seu porte, a aparência africana de suas feições e o tom negro inteiramente fora de moda de sua pele (p. 21)
Isso me faz pensar em qual tom de pele estaria na moda agora, aqui no Brasil. Elaine ainda diz mais:
A voz do blues urbano antigo é, na maior parte, feminina. Os homens cantavam as grandes canções de trabalho e levavam suas músicas rurais pelas estradas do interior do Sul (p. 17).
Muito mais pelo texto e menos pela biografia, o livro tem algumas passagens interessantes, que nos fazem ter vontade de ler mais sobre a história do blues (na lista, o livro Kind of Blues: tória da obra prima de Miles Davis, Ashley Kahn, Ed. Barracuda, 2007). Lembrei do que vi no documentário Lixo Extraordinário, com Vik Muniz falando sobre uma obra de Basquiat. Numa passagem, ele está em Londres acompanhado de Tião, líder da Associação Comunitária dos Catadores de Recicláveis do Jardim Gramacho. A única coisa que ele soube dizer sobre o artista para o moço foi que Basquiat “dormia na rua”. Ouvindo assim, a gente “esquece” que Basquiat era um negro de classe média, e não um pobretão, como quer pintar (talvez por achar que as histórias de artistas negros só tenham validade quando eles são pobretões, devendo estes esforçarem-se de modo sobrehumano para terem seu trabalho reconhecido) seu Vik. Esse assunto já foi também comentado aqui.
De qualquer modo, ouçam a música de Bessie e sejam felizes. Eu gosto dessa:
There’s nineteen men live in my neighbourhood. There nineteen men live in my neighbourhood. Eigtheen of them are fools, and the one ain’t no doggone good.
Mas não sou tão má. Às vezes, estou pra essa:
Please Help Me Get Him Off My Mind
Bessie Smith
I've cried and worried, all night and I laid and groaned
I've cried and worried, all night and I laid and groaned
I used to weigh two hundred now I'm down to skin and bones
It's all about a man who always kicked and dogged me 'round
It's all about a man who always kicked and dogged me 'round
And when I try to kill him that's when my love for him comes down
I've come to see you gypsy, beggin' on my bended knees
I've come to see you gypsy, beggin' on my bended knees
That man's put something on me, oh take it off of me, please
It starts at my forehead and goes clean down to my toes
It starts at my forehead and goes clean down to my toes
Oh, how I'm sufferin' gypsy, nobody by the good Lord knows
Gypsy, don't hurt him, fix him for me one more time
Oh, don't hurt him gypsy, fix him for me one more time
Just make him love me, but, please mam, take him off my mind.
Ouçam alguma coisa de Bessie aqui embaixo:
Aqui.
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