Você que me lê, me ajuda a nascer.
sexta-feira, março 27, 2009
terça-feira, março 24, 2009
Mais um.
As minhas amigas dizem, torcem o nariz, mais um, mais um, fico triste, elas não me entendem, eu sei que eu só quero é ser feliz, e demora às vezes, às vezes não, mas como saber, tu tem que ficar pronta, sempre a postos com o coração aberto e coração aberto sabe como é, passa passa e ele olha, suspira, basta dar um sorrisinho e ele se encanta logo.
Então não é mais um, é sempre o mesmo, por que sou eu, a mesma de sempre, sempre apaixonada. O moço é só mais um moço, só mais um detalhe, ops, tropeção da vida. Vai ser sempre assim, querendo ou não, sempre apaixonada.
domingo, março 22, 2009
Zainab.
Ele consegue falar coisas que em outras bocas soariam sem nenhuma graça, consegue falar coisas bonitas sem parecer mais um canalha. Ele consegue me fazer sorrir enquanto eu falo por que lá do outro lado, ele me espera doido de vontade de falar com um brilho no olho igual o de criança pequena - ele não sabe, mas eu adoro isso, e prolongo a frase só pra que o olho dele continue a brilhar, pra que eu continue vendo a criança que ele é dançando, sorrindo, brilhando.
Só posso dizer da mão, dos sentidos, dos beijos - bochechas envergonhadas sempre pedem um beijo mais à boca -, dos olhos, bocas e sorrisos.
Pessoas que não querem me seduzir me seduzem mais do que pessoas que saem de casa decretadas a me fazerem apaixonar - e eu não sei por que diabos eu tinha a impressão que ele sabia isso de mim, o tempo todo. Tinha a impressão de que por dentro ele sorria ao perceber meus olhares e minha mão que descansava ali perto da dele, esperando ser roubada, carinhada, cafuné.
Olho pra ele, lembro dele e penso que sei o que vai acontecer. Mas finjo que não. Finjo que não sei que gosto do modo como me ouve, me olha, me encabula. Finjo que não quero de novo sua companhia, pra fazer nada, botar a mão no queixo, encostar cotovelo na mesa de bar e olhar a rua.
Eu só queria que ele lesse isso aqui e abrisse um sorriso de criança, daquele que só ele sabe sorrir, pra mim, pra mim.
terça-feira, março 17, 2009
She wants talk to me.
Se você estivesse ouvindo Billie Holiday, I am Blue, numa vitrola velha trocada por uma geladeira mais velha ainda e soubesse que ela quer falar com você, ela, só ela, também sorriria feliz.
Se eu te dissesse que está chovendo, e o barulhinho bom da agulha raspando no vinil acontece entre um pingo e outro dessa chuva, você entenderia o que é felicidade, além de todas aquelas outras coisas que eu digo aqui, fazem quatro anos.
I do, ou melhor, Oui.
domingo, março 15, 2009
Menu.
Descobri ontem onde se esconde a sedução da língua francesa. No menu.
É que você tem falar moêniu, mas sem falar o i. É boca de u com som de i.
Deu pra entender?
De agora em diante, vou pedir sempre, me vê o cardápio.
Quando mais eu aprendo, mas eu me estrepo. Quando mais eu aprendo a falar, mais eu entendo por que um grande amigo meu - saudade - fica quase o tempo todo em silêncio.
sexta-feira, março 13, 2009
Uma pena.
A criança me olha e fala
eu já fui na natureza
Fico sem jeito de contar pra ela que antes, um pouquinho antes dela nascer e dos seus cinco anos, o mundo não era coisa ao contrário e a gente diria
eu já fui na cidade
Penso que se "lá na natureza" os bichos assistem tv', o noticiário diria
um mar de cimento invadiu o que antes era uma bela floresta
Ao invés de ouvir o que a gente ouve, coisas como
novo prédio de empresa tal, conforto e parque e lazer
Pena.
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A menina me cutuca e diz
tou com saudade da minha mãe
E eu que não sei de nada, respondo
calma, meu amor, daqui a algumas horinhas tu volta pra casa
E ela replica, depois de um suspiro e com cara de não-você-não-entendeu
não, professora, não adianta ir pra casa, ela não está em casa quando eu chego, eu só vejo ela fim de semana, quando ela não vai trabalhar, ela chega muito tarde e eu tou dormindo e de manhã sai muito cedo e eu tou dormindo
Eu sempre arrumo alguma coisa pra fazer quando respondem uma coisa dessa. Mas a menina cutuca de novo e diz
queria que você fosse minha mãe, pelo menos eu te vejo todo dia de tarde
(coceira na garganta)
terça-feira, março 10, 2009
Instrumentos.
Andando pela rua, vi um homem negro tentando usar o pedaço da porta de uma geladeira velha pra fazer um tapume de onde fica o relógio da luz da casa dele. Acredito que vá funcionar. Fiquei matutando comigo o que será que a gente conseguiria produzir além do que a gente já produz se não nos fosse o tempo inteiro negado o acesso aos lugares, coisas e pessoas. Se pudéssemos sempre fabricar nossos próprios instrumentos, tintas e tudo o mais.
Conseguir tudo na marra tem um gosto diferente, mas cansa se tiver que ser toda vez assim.
Aí eu lembro da frase de um estudante negro que tinha acabado de ser admitido na Universidade do Alabama, país que foi um dos últimos a acabar com a segregação racial no EUA:
dê-me a entrada na Universidade e eu me torno presidente dos EUA
Obama neles, mais uma vez.
Estação Cidade Universitária.
É quando eu ponho o pé pra fora, longe do risco de cair em baixo dos trilhos, que me sinto, de novo, uma mulher inteligente, bonita, que tem muita saudade da mãe e que queria, um dia, dar tchauzinho pra ela da estação.
Daquela estação.
domingo, março 08, 2009
Cotidiano.
você diz que elas são comuns, mas elas são bonitas, você diz que eu sou bonita mas eu sou igual à elas
(...) é por que eu te amo, né?
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A moça-senhora depois da feira me viu no ponto de ônibus e parou, queria conversar. Me contou a vida inteira. Depois disse
tenho que ir lá na USP, arrumar meus dentes
E eu, inocente
ah, a senhora sabe, conhece o atendimento lá? é grátis
E ela
ah, minha filha, conheço, é ruim demais, caiu tudo, olha aqui
Sorriso sem graça. Meu, a senhora não quer sorrir. Chegou a perua, ela me deu tchau, me disse que era encostada mas fazia bico na feira, me pediu segredo que a Previdência não podia saber de nada.
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E eu adoro um amigo que diz
tudo isso aí é muito recente, coisa de cinco mil anos. nossa cultura é mais que milenar, esses problemas que inventaram nem são nossos
Adoro não. Eu tou apaixonada por ele, mas ele acho que não acredita. Disse que eu sou bonita, inteligente. Sou mulher, enfim.
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Tanta coisa pra escrever, eu passo, esqueço. Vivo, sinto, esqueço. Só de escrever. Tá tudo aqui, na cachola do coração. Por que compreender é só mais um modo de sentir o mundo.
Alô pandeiro, alô viola.
quinta-feira, março 05, 2009
Bagagem.
Depois que li Adélia Prado não quis mais escrever. Ela disse que tudo que escreve é inventado de bíblias e guimarães. Eu digo que depois que a li não quero mais escrever nada. Só fazer as coisas para gastar alegria. Só para ouvir meu nome dito numa boca feita pra mim. Ela que diz assim, ainda mistura terra, chão e mato às dores, coisa que eu agora selva de pedra vou perdendo um pouquinho todo dia.
Tem gente que vai embora e nem avisa, outras avisam mas mesmo assim a gente não se acostuma, eu não queria que ninguém fosse embora de vez, ou é só a gente que não sabe como fazer quando as pessoas se vão, a gente tem que aprender com quem vai, mas como, se ela vai, se ele vai, es-vai.
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