Você que me lê, me ajuda a nascer.
quinta-feira, fevereiro 26, 2009
... uma mulher linda deitada ao meu lado...
(meunomemeunomemeunome)
loucura, loucura
Respirei fundo, mas não consegui segurar e a lágrima caiu. Deixei que caísse, uma dúzia delas. Molhei a cama dele, a cama por onde passeei, deitei, virei, dormi, sorri. Não amei, porém.
Não entendi, porém. Continuo aqui, achando que é tudo um grande jogo e que vou ganhar no final.
terça-feira, fevereiro 24, 2009
Felicidade sim.
Perguntei pra um amigo
tu não fica triste nunca?
E ele
fico... mas passa logo
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Verônica, o filme.
Assistam se quiserem. Eu parei de comentar filme há algum tempo, porque não sou crítica de cinema e me irrito quando alguém que não entende nada fica dando pitaco. Mas esse filme sem propósito é sobre uma professora de escola pública infeliz com sua carreira que fica incumbida de levar para casa um de seus alunos que a mãe não foi buscar na escola. O resto você já deve ter visto por aí.
Não quero falar muito, mas vou falar só mais isso aqui. O filme tem problemas no roteiro, nas continuações, nas atuações (gosto da Beltrão, mas nesse filme...). O interessante é que em meio a tudo isso, o ator Matheus de Sá manda muito bem e pronto. Pelo menos isso. Ah, e além de tudo isso, o filme é recheado de estereótipos bizarros. Bizarros mesmo.
Eu sou professora, e posso falar.
sexta-feira, fevereiro 20, 2009
Fazendo amanhecer.
Eu gosto de Manuel de Barros por que ele diz
Sou leso em tratagens com máquina.
Tenho desapetite para inventar coisas prestáveis
Em toda a minha vida só engenhei
3 máquinas
Como sejam:
Uma pequena manivela para pegar no sono
Um fazedor de amanhecer
para usamentos de poetas
E um platinado de mandioca para o
fordeco de meu irmão.
Cheguei a ganhar um prêmio das indústrias
automobilísticas pelo Platinado de Mandioca.
Fui aclamado de idiota pela maioria
das autoridades na entrega do prêmio.
Pelo que fiquei um tanto soberbo.
E a glória entronizou-se para sempre
em minha existência.
O fazedor de amanhecer, do livro Fazedores de Amanhecer, Ed. Salamandra. Um monte de autores.
Amigo meu que diz
você passa anos em São Paulo sem botar o pé na terra
E depois ele me diz
vem cá, senta aqui, ultimamente a gente não para mais pra conversar
Parei, sentei, conversei.
quarta-feira, fevereiro 18, 2009
Invisibilidade Pública.
Uma vez, quando reconheci na Lavagem do Bonfim um moço que tinha me vendido cremosinho um dia antes na frente da Feira de São Joaquim, minha amiga achou engraçado.
oxi, foi você mesmo, moço
Ele também lembrava de mim. Mais louco ainda que quando com a mesma amiga um ano depois na praia de Piatã reconheci o vendedor ambulante que havia vendido a ela uma canga. Ele também lembrou de mim, minutos depois.
Leiam essa matéria aqui
http://http//carosamigos.terra.com.br/da_revista/edicoes/ed80/sofia_amaral.asp
que eu já conheço faz tempo, você fica agoniada e triste. Muito triste. Fico mais triste ainda quando as pessoas dizem
em São Paulo ninguém dá bom dia pra ninguém
E eu pergunto na lata
como é que tu sabe, tu dá?
Às vezes é só uma coisa que você precisa começar a fazer. Dê bom dia, que as pessoas respondem.
Minha Casa.
Atentem para a questão, não errem um milímetro com as crianças. Eu, na aula, digo
escrevam um texto
E botei o nome do texto, Minha Casa. Levanta um mocinho, oclinhos azul, compenetrado
professora, não posso fazer
Eu, cara de quase-brava:
c-como assim?
Ele
moro de aluguel, professora.
terça-feira, fevereiro 17, 2009
Abusou.
Tira partido, abusa.
A gente vai e vem, revém.
Vira por que torna e volta.
...
Mas uma hora nem é coração que cansa, é tu que pensa que talvez seja o teu amor uma coisa tão inexplicável que quer conversa sempre e direto às sete da noite antes do café, um elogio antes de dormir e não nada. Não mais nada.
quinta-feira, fevereiro 12, 2009
Morte.
Primeiro dia de aula. Crianças de cinco anos, rolou um papo sobre a morte. Mandei
e pra onde a gente vai quando a gente morre?
Mocinho inteligente responde
o coração vai pra deus e o corpo vira lama
Adorei a idéia. E ainda mais que ele só tem cinco anos e a vida toda pela frente.
Escaninhos.
As memórias percorrem caminhos estranhos para nos fazer lembrar de coisas tão boas que nunca deveriam fazer voltas para aparecer de novo. Andando com mainha pela Baixa dos Sapateiros, Barroquinha, de mãos dadas ela ia me contando de sua infância e adolescência, como tinha medo daqueles becos que desembocavam no Pelourinho, tão estreitos e misteriosos, como desejava os vestidos nas lojas e coisa e tal.
Fomos subindo em direção à Praça Castro Alves e ela de repente lembrou
lembra quando tu era pequena que se perdia sempre que a gente saía?
E aí veio tudo de uma vez só, eu me perdia na feira, me perdia no supermercado, na loja, no shopping, na rua, lembro bem da minha cara de criança olhando o mundo - lembro agora de Bia que pede pra Zandra quando acorda
elizanda, me leva na laje, quero ver o mundo -
eu lembro bem que eu era pequenininha e olhava pra cima, me concentrava no que estava olhando e quando eu olhava pro lado, pra frente, nada de mainha, a gente se procurando entre as pessoas e coisas, a gente sempre se encontrava, de novo os mesmos conselhos, mas eu sempre achava que não tinha nada demais parar para olhar direito as coisas, que tinha alguma coisa errada na pressa em fazer, olha eu ali me perdendo de novo e daquela vez mainha tinha ficado mesmo preocupada, botou no som do supermercado o meu nome, bem na hora que me encontrou falaram meu nome, eu achei que era magia de mãe, fiquei encantada e orgulhosa de sair do supermercado de mão dada com alguém que tinha super poderes, aha.
Fico pensando se é por isso que eu gosto de me perder por aqui, se é por todas essas histórias que eu escolhi ficar longe às vezes, olhando com cara de criança pro mundo.
quarta-feira, fevereiro 11, 2009
Adoro (poesia).
Adoro pau mole.
Assim mesmo.
Não bebo mate
não gosto de água de coco
não ando de bicicleta
não vi ET
e a-d-o-r-o pau mole.
Adoro pau mole
pelo que ele expõe de vulnerável e pelo que encerra de possibilidade.
Adoro pau mole
porque tocar um pressupõe a existência de uma intimidade e uma liberdade
que eu prezo e quero, sempre.
Porque ele é ícone do pós-sexo
(que é intrínseca e automaticamente
- ainda que talvez um pouco antecipadamente)
sempre um pré-sexo também.
Um pau mole é uma promessa de felicidade sussurrada baixinho ao pé do ouvido.
É dentro dele,
em toda a sua moleza sacudinte de massa de modelar,
que mora o pau duro e firme com que meu homem me come.
Maria Rezende
terça-feira, fevereiro 10, 2009
"Baianinha, é?"
Domingo, esperando vôo com mainha em Congonhas, nada pra ler, lembro que na bolsa havia parte do jornal da Folha, Caderno Ilustrada. Surrupiei de um amigo para anotar as sessões de cinema, mas ali, sem nada para ler, comecei a folhear as poucas páginas. Me deparo com a "coluna social" de Mônica Bergamo, coisa mais provinciana que coluna social em jornal de cidade com mais de dez milhões de habitantes não tem, vamos lá. Leio que a entrevista são com namoradas de banqueiros, perguntas sobre como elas estão enfrentando o namoro nessa época de crise. Conversa vai, conversa vem, Monica dispara uma pergunta sobre escolha de namorada, essas coisas assim. No que dispara uma tal de Mariana
rola isso, sim. É até feio falar, mas a ex-namorada do Marcelo era uma "baianinha". Tenho certeza de que o fato de eu ter morado no mundo inteiro, falar línguas, conhecer pessoas o levou a pensar: "Vou ficar com esse fim de mundo ["a baianinha"] ou fazer essa troca?". E me escolheu
Li umas duas vezes, só pra me acostumar com a idéia de que o preconceito, num dos jornais mais lidos do País, é algo comum. Desde quando ter nascido nesse ou naquele outro lugar diz se somos fim ou começo de mundo? Não entendi nada.
Mas pelo que entendo de leis, isso dá um looongo processo. E é o que eu vou fazer.
segunda-feira, fevereiro 09, 2009
Mighian Danae.
http://correio24horas.globo.com/noticias/noticia.asp?codigo=16904&mdl=49
Acessem o site acima, vejam a foto. O jornal carlista Correio da Bahia, em Salvador, tem um espaço dedicado às fotos enviadas por leitores e leitoras todos os dias. Estava em Salvador e cliquei a 2ª Marcha contra Intolerância Religiosa que acontece em Itapoã, dia 21 de janeiro. Fiquei feliz quando abri o jornal e vi estampada a foto que tirei, mas não gostei nem um pouco da legenda que inventaram: baianas em caminhada a favor da Lagoa do Abaeté Fiquei pensando que talvez a foto não fosse tão boa e sugerisse isso, mas de qualquer modo, eu havia mandado a legenda. As referidas "baianas" contidas na legenda não estavam fantasiadas: são, respeitadamente, filhas e mães de santo de terreiros de candomblé em Salvador e cidades vizinhas. Por que será que o jornal, que não cobriu a Marcha, fez questão de inventar uma notícia? Mandei um e-mail reclamando o erro, e no site aparece uma outra legenda, misturando verdade e mentira. O moço que segura a placa SOS ABAETÉ segura por que quer, por que gosta, mas não era o mote central da Marcha. Alhos com bugalhos. Aqui pra nós, nem gostei tanto da foto. Gosto mais da foto de Mãe Jaciara que postei lá embaixo. Mas agora me retei.
Acessem o site acima, vejam a foto. O jornal carlista Correio da Bahia, em Salvador, tem um espaço dedicado às fotos enviadas por leitores e leitoras todos os dias. Estava em Salvador e cliquei a 2ª Marcha contra Intolerância Religiosa que acontece em Itapoã, dia 21 de janeiro. Fiquei feliz quando abri o jornal e vi estampada a foto que tirei, mas não gostei nem um pouco da legenda que inventaram: baianas em caminhada a favor da Lagoa do Abaeté Fiquei pensando que talvez a foto não fosse tão boa e sugerisse isso, mas de qualquer modo, eu havia mandado a legenda. As referidas "baianas" contidas na legenda não estavam fantasiadas: são, respeitadamente, filhas e mães de santo de terreiros de candomblé em Salvador e cidades vizinhas. Por que será que o jornal, que não cobriu a Marcha, fez questão de inventar uma notícia? Mandei um e-mail reclamando o erro, e no site aparece uma outra legenda, misturando verdade e mentira. O moço que segura a placa SOS ABAETÉ segura por que quer, por que gosta, mas não era o mote central da Marcha. Alhos com bugalhos. Aqui pra nós, nem gostei tanto da foto. Gosto mais da foto de Mãe Jaciara que postei lá embaixo. Mas agora me retei.
Nada a declarar.
Estava ali, no salão, fazendo a unha. Isso quase nunca nunca acontece. Entrou uma moça, paulistana da gema. Mas isso eu tava lá em Salvador, ela puxou assunto com mainha e acabou descobrindo que eu morava em São Paulo. Puxou papo comigo e perguntou o que eu achava de São Paulo, como estavam as coisas por aqui. Falei que estavam legais, mas que gostava muito de Salvador, que queria voltar. Ela começou a dizer que não gostava de nada dali, que morava há sete anos mas achava tudo uma grande porcaria, eu fiquei sem jeito e disse que gostava muito de Salvador. Mainha fica logo zangada e saiu do salão para não brigar com a moça, eu saí de lá e falei com mainha que não era pra zangar, a moça só não sabia dizer as coisas direito.
Sabe? A grande maioria das guerras devem ter começado assim. Não num salão de beleza, mas sim por que alguém ficou dizendo que isso ou aquilo era mais bonito ou mais gostoso, aí alguém mais esquentado foi lá e pimba, tacou um míssel e matou um montão de gente. Fiquei pensando nisso e fiquei pensando que não dá mais pra ficar explorando essa idéia de São Paulo não presta, odeio esse lugar. E que Salvador é cidade idílica, que lugar bom de morar.
A verdade é que São Paulo é metrópole, e como toda metrópole, tem suas coisas. As pessoas devem saber disso e devem saber que não é fácil ser agradável e gentil numa cidade com dez milhões de habitantes. E as pessoas correm por que precisam correr e depois querem até parar de correr mas tá todo mundo correndo e o tempo, ah, o tempo, ele é outro.
Sorria, meu bem.
Direto da recepção da Selva de Pedra, eu parada esperando o ônibus, recém chegada da viagem de férias, São Paulo, dia três de fevereiro. No ponto de ônibus mamãe e filho esperavam também a condução. Olhei pra ele, ele me olhou, esboçou sorriso, talvez fossem as minhas tranças, minhas roupas coloridas, vai saber. Olhei pra ele, sorri de volta, disse
oi, neném
A mãe sorriu, mas um sorriso desconfiado surpreso e sem jeito. Disparou
você conhece ele?
Gaguejei, baixei os olhos.
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