Você que me lê, me ajuda a nascer.
sábado, fevereiro 04, 2006
Maníaco do ônibus ataca.
Eu fiquei esses dias me perguntando se era normal que eu escolhesse sempre para sentar no ônibus aquelas cadeiras solitárias, se era normal alguém como eu tão falante e risonha nunca querer papo num ônibus... tudo bem que já me disseram que ônibus não é lugar para se fazer amigos (como se tivesse uma lista de lugares prováveis... ai, ai). Mas percebi que cada vez mais eu ando fazendo isso, me fechando com meu jornalzinho, solita na cadeira solita.
Por causa disso, resolvi mudar um pouco e ontem à noite, lá pelas 19 horas, sentei naqueles bancos altos, sabe, e esperei pacientemente que alguém sentasse ao meu lado, para me provar que eu ainda continuo sociável.
O meu problema é que eu encaro todo mundo. Eu olho sério e olho bem pra todo mundo que passa perto, e acho que num ônibus, depois assim das 19 horas, aquilo pode ser um convite... e veio um cara, um homem, um senhor, pra sentar do meu lado. Parecia normal. Digo, normal, trabalhador, mãos sujas de graxa, o que me fez pensar que ele era um mecânico ou algo parecido. Tudo bem, olhei pra ele, e acho que isso fez com que ele sentasse do meu lado.
Sorri um sorriso meio sem graça. Era só pra dizer que eu sou sim, uma pessoa sociável. Eu queria provar pra mim mesma que eu ainda continuo sendo aquela menina divertida e encantadora.
Tudo bem, até aí. Mas o que eu não esperava é que subisse um travesti no ônibus e o cara entabulasse um papo sobre "travestis e a perdição do homem moderno". Contou que ele mesmo já tinha quase perdido a cabeça por um, mas tinha se apegado em Deus (o deus dele deve mesmo ser com D maiúsculo). Virou pra mim e perguntou o que eu achava disso. Perguntou qual a minha preferência. Sim, por que ele não aceitaria que uma morena linda, uma morena gostosa, com o perdão da palavra, gostasse de mulher. Eu disse, bem, bem, bem... fingi mexer no celular, fingi atender uma ligação. Doida de vontade de descer no próximo ponto.
Foi quando ele me perguntou minha profissão que ficou mais chateado. Queria saber como eu tinha conseguido fazer o que gosto estudando nas escolas de hoje em dia, sendo que ele se matou de estudar no tempo dele e tinha as mãos cheias de graxa. Foi bem nessa hora que eu tive certeza que ia viver um assassinato estilo aqueles de filmes B americanos.
Ele me perguntou se estava incomodando. Nada, nada. Nada demais. Se você quiser, eu mudo de lugar, moça. Desculpe pelas perguntas, moça. Ufa, ufa. Minha parada estava chegando, e ele também levantou. Aí que o pavor tomou conta de mim. Já pensou se o bom senhor que quase traiu a mulher com um travesti há uns dois meses atrás fosse descer justamente no mesmo lugar que eu? Sofri alguns minutos, imaginando o que deveria fazer para me safar dele. Desci, e ele também desceu. Me disse tchau e seguiu em caminho oposto.
Eu apertei o passo, ri de mim mesma. Afinal, ele era só um louco. Quer dizer, só um pouco louco. Não era de todo. Não, não de todo.
De qualquer modo, melhor voltar a sentar na cadeira solitária.
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5 comentários:
mecanicos, boa gente.
Ahaahahaahahahhaahah!
Olha o link!
Infatti, aquele não era mecânico. Nem esse.
Não disse que era péssima idéia?
Esqueci de dizer... se o seu teclado não tem ~ nem ^, eu bem sei quem você é... portanto, não me mande cartas amor, Flores Partidas fica sexy só com Bill Murray. Né?
flores partidas é um filme péssimo, chato e enfadonho.
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