Você que me lê, me ajuda a nascer.

sexta-feira, agosto 19, 2005

Come here, Bob!

Bichano. O.K., o gato é dele. Mas isso não significa que vai tê-lo de volta. Esse foi o pensamento que tive quando Bob se aninhou nos meus braços e eu pude senti-lo ronronando baixinho. Ele gosta daqui, se acostumou com a gente junto nesses dois anos de namoro-casamento, vai lá saber o que era. Bob não tem culpa, é normal ainda não ter assimilado isso e ter ficado aqui, no lugar que era nossa casa e também casa dele. Sim, ele veio junto, no pacote, junto com o cara que se dizia meu namorado até três semanas atrás. Mas acabou virando arrimo de família, ou melhor, de casal. A idéia foi dele, a grana foi dele, e foi ele quem escolheu. Nome, cor e nacionalidade. Eu nem gostava do Bob quando ele não se chamava Bob. Mas hoje eu acho que sinto por ele uma espécie de gratidão, Bob passou a ser o referencial para as atitudes do seu dono, me perguntava sempre “o que o Bob faria se pudesse falar agora?”, então ele virou alguém para se confessar. Pode parecer absurdo para quem lê isso aqui e me conhece, deus me livre de gato faz só uns meses atrás, mas muita coisa mudou, inclusive as relações entre eu, gente e bicho. Não fiquei mais boba, fiquei mais velha. Eu sinto mesmo que Bob não quer voltar. É como se ele me dissesse, eu meio que sinto isso quando ele me olha e segue lambendo o pêlo em direção ao seu pratinho de comida no fundo da cozinha. O dono dele mora perto, bastaria passar por lá qualquer hora do dia ou da noite e deixá-lo com o porteiro, com um bilhetinho dizendo uma bobagem do tipo “Tome, ele é seu, por mais que goste mais de mim do que de você” que tudo estaria resolvido, mas acontece que eu fico aqui relutando. Relutando por que no começo, digo, no fim do namoro, Bob era a única forma de ligação entre eu e a minha velha história de amor, desgastada, suja, sem muita coragem para prosseguir adiante. Mas é como aquele short jeans velho e rasgado, eu mesma tenho um, que você tem e sabe que na próxima lavada você tem que jogar fora, mas não consegue. Assim era o que eu sentia pelo dono do Bob (dono do Bob! Ele tem nome, tem nome, gente, mas eu prefiro nem dizer, dono do Bob soa menos sentimental e mais distante), o que eu vivia com ele, short velho e puído que não dá coragem de jogar fora. E quando tu joga, fica meio aquela coisa no ar, “eu perdi alguma coisa, mas não sei o que é”, sabe? Depois, eu fiquei sem tempo, sem tempo pro Bob, sem tempo pra mim. E foi quando ele, refeito do susto do fim de tudo, resolveu me ligar. Ligar, escrever, eu nem lembro. Eu só sei que ele começou a atacar de todos os lados, queria o Bob. Disse que não tinha pedido antes porque imaginava que eu teria algum semancol. Que o Bob era sim importante, e que ele não tinha esquecido dele e de como ele era especial. Eu ia mencionar que se o Bob era especial tudo que a gente viveu também era, mas ele desligou na minha cara. Tanto melhor. Decidi naquela hora que Bob não iria, não antes de falar cara a cara com o traste que me lembrava o tal short rasgado. Enquanto isso, o tempo ia passando, e Bob ia acreditando que as coisas tinham entrado nos conformes, ali era mesmo sua casa e o traste era apenas decoração inútil, uma coisa assim sem valor, que a gente se desfaz na primeira oportunidade. Aí eu não mandei de volta mais por comodidade, já estava fazia parte do meu dia chegar em casa e encontrá-lo ali, se espreguiçando, me esperando para nada, para estar ali. E eu, que já há muito não me dava a encontros aos fins de semana, nem a saídas espetaculares, dessas que terminavam em camas alheias, me servia da companhia de Bob. Mas um dia tive um estalo e percebi mesmo que o dono do Bob não acreditaria que eu estava realmente curada das dores que seu amor me fez passar se eu não o devolvesse. Vinho argentino com música do Gardel, certa noite criei coragem e despedi-me do Bob, deixado então na tal portaria do prédio, mas sem bilhete. Passado alguns dias, Bob aparece. Sim, Bob. Ele tinha voltado, voltado pra mim. Não poderia mais acreditar em nada além da idéia de que ele tinha me escolhido, por ser mais cômodo e limpinho para ele ficar comigo, além de tudo. Foi quando numa dessas noites atrás o dono do Bob me ligou da portaria dizendo um “volta pra mim” meio chocho que eu me toquei como a volta de Bob tinha me feito bem. Não queria mais o short, tinha arrumado um bem parecido num brechó há duas quadras de casa. Mandei na lata pra ele: - Tarde demais. Bob voltou antes.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pô legal o nome do bichano ontem chegou um lá em casa todo preto e oh dúvida cruel. Qual o nome do animalzinho... Marciano? Salém? Qual? Fred ? Ah... Preciso de ajuda mesmo!!!