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quarta-feira, junho 28, 2017

De novo.

Passavam das 23h quando ele segurou a minha mão. Ele segurou ou fui eu quem segurei? Eu não sei. Mas eu sei que eu queria isso.
Estávamos ali, na entrada do metrô. Era noite, pouca gente na rua. Um homem e uma mulher juntos e parece "natural" segurar a mão do outro, sei lá se para mostrar que se está junto, para cuidar, para ficar perto, eu não sei direito. Mas, estávamos juntos? Eu não sei (mas eu sei que eu queria isso).
Ele envolveu minha mão na sua - ah, que mãos - e disse:

faz tanto tempo que eu não faço isso

E me deixou desconcertada. Quando eu fico assim eu falo de outra coisa, pergunto sobre como se faz para chegar na entrada do metrô, sei lá. Mas ele sempre fala algo, nunca deixa em branco, sempre preenche o momento com alguma frase, e eu sem jeito, toda cheia das palavras, nessas horas por vezes fico sem saber como fazer quando é alguém que me diz um carinho.

Nossas mãos dadas e eu sentia voar baixo pelo chão, segura por aquele fio de energia que nos unia assim, depois de tantos anos longe. Eu poderia parar ali e ficar só de mãos dadas com ele até acordar de novo. Sentamos no metrô e ele lembrou uma foto de beijo nossa num outro metrô, foto essa que nem existe mais. Muita coisa foi jogada fora depois de tudo. Muita coisa foi embora, inclusive o tempo. Muita coisa ficou, inclusive o frio na barriga quando ele encostou a cabeça no meu ombro. Eu estava desconcertada, mas ainda assim eu queria que ele repetisse a pergunta que me fez ainda no terminal de ônibus porque eu sabia que ele ia me dar um beijo, ele disse, olhando nos meus olhos

posso fazer uma coisa?

Mas eu de novo escorreguei, mudei de assunto e perguntei sobre o ônibus que a gente deveria tomar, ele não voltou a pergunta, porque não tinha como, ele notou que mudei de assunto, ele não sabia se deveria. Ele não perguntou mais, mas ao sair do metrô ele segurou de novo a minha mão e entrelaçou os dedos e de novo esfriou minha barriga por dentro, eu nem sei do beijo, só sabia que eu não queria que chegasse a hora de parar no próximo ponto, queria caminhar com ele toda a noite só pra segurar na sua mão por mais tempo, queria ir pra frente, em linha reta ou sinuosa, mas com ele.

E depois de sete anos eu descobri que é o que eu mais quero agora, por mais que pareça estranho e eu tenha dito que não aos quatro cantos por tanto tempo, eu nem estou com vergonha de ter mudado de ideia, de novo.


Foto extraída desse site.

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