Cheguei no ponto de ônibus e um garoto de uns dez anos repetia os itinerários num inglês corretíssimo, todo charmoso em sua roupa de escola. Olhei para ele, que olhou para mim mas não me deu ligança. Olhei de novo e continuei a olhar. Sorri, esbocei um começo de conversa com meu inglês de aprendiz e ele me deu bola. Mostrei um adesivo escrito em português e ele treinou ler. Parecia com aquela animação de quem aprender a ler e quer entende tudo que os símbolos da escrita dizem.
Conversamos sobre o ônibus que iríamos tomar, descobri que era o mesmo, mas assim que ele encostou no ponto, ele saiu correndo em disparada. Ninguém ligou para a gente conversando, ninguém me olhou como se eu fosse uma monstra ladra de crianças e ele foi embora, rápido como apareceu na minha frente, não o vi mais.
Cape Town é assim, uma cidade grande onde você encontra crianças na rua, nomeadamente mais meninos do que meninas, mas tem. E eu fiquei apaixonada por isso, quando uma cidade ainda tem crianças na rua indo e vindo sozinhas é porque há alguma esperança. Há coisas ruins acontecendo o tempo todo, em toda parte, em Cape também. Mas essa primeira impressão - que eu não tive em Londres, por exemplo - já encheu meu coração de amor.
Vou ali, olhar crianças indo e vindo em bando da escola.