[...] sempre nos nasce uma criança, a vida toda.
Porque a infância é o acontecimento que impede a
repetição do mesmo mundo, pelo menos a sua
possibilidade, um novo mundo em estado de
latência. Somos nascidos a cada vez que
percebemos que o mundo pode nascer novamente e
ser outro, completamente distinto daquele que está
sendo. O nome de uma faculdade chamada
criação, transformação, revolução, isso é a
infância (KOHAN, 2009, p. 47).
Você que me lê, me ajuda a nascer.
quinta-feira, maio 29, 2014
segunda-feira, maio 26, 2014
Você Não Sabe O Que Amor É.
Eu poderia escrever algo como
"e a chuva fina molhava meu rosto junto com as lágrimas"
Mas era tudo mentira. Não chovia muito, era eu quem chorava.
E chorava.
"e a chuva fina molhava meu rosto junto com as lágrimas"
Mas era tudo mentira. Não chovia muito, era eu quem chorava.
E chorava.
terça-feira, maio 20, 2014
Colo e cafuné.
Eu só quero deitar no colo, só quero um cafuné. Não quero perguntas, não quero conversas. Só colo e cafuné. Coisas como carinho e amor. Sem precisar explicar nada. Só sentir. Respirar e sentir. Pouco, né?
domingo, maio 18, 2014
Eu só quero chocolate.
Às vezes eu quero desistir de tudo. Tudo mesmo. Aí aparecem pessoas como ele, lindas, educadas e pacientes. Que me elogiam e me fazer acreditar que conversando tudo dá.
Eu tenho saudade dele, eu acredito nele.
Eu tenho vontade dele, eu acredito nas palavras dele.
Ele me faz tão bem, ele me faz tão mal. Ele é essa coisa chamada gente por quem eu sou completamente apaixonada. Ele, que sempre descobre suas faltas e nunca esquece de pedir desculpas. Ele, que passa a noite abraçado comigo tentando entender palavras em outras línguas e matrizes de pensamentos totalmente diferentes da dele. Ele, aprendendo de mim e dizendo eu preciso de você so much.
Ele.
domingo, maio 11, 2014
sábado, maio 10, 2014
segunda-feira, maio 05, 2014
Pessoas e criaturas (com algumas descoragens no caminho).
Sabe aquela pessoa que te procura, quer conversar, mas nunca quer admitir onde ela errou ou no que está errada?
Quer que você apenas perdoe e não quer que você toque em assuntos difíceis ou espinhosos para ela?
O que você faz?
Eu desisto.
Quer que você apenas perdoe e não quer que você toque em assuntos difíceis ou espinhosos para ela?
O que você faz?
Eu desisto.
A escravidão venceu no Brasil. Nunca foi abolida.
Eu vou destacar as partes que mais gosto desta entrevista com Eduardo Viveiros de Castro (algumas coisas que não estão aqui eu não concordo completamente, mas ainda bem), leiam a entrevista toda dele aqui:
Num país como este, em que a desigualdade, a violência, continuam, porque é que as massas não saem?
Quem dera que eu soubesse a resposta. Essa é a pergunta que a esquerda faz desde que existe no Brasil. Acho que há várias razões. O Brasil é um país muito diferente de todos os outros da América Latina, por exemplo da Argentina. Basta comparar a história para ver a diferença em termos de participação política, mobilização popular. Tenho impressão de que isso se deve em larga medida à herança da escravidão no Brasil. O Brasil é um país muito mais racista do que os Estados Unidos. Claro que é um racismo diferente. O racismo americano é protestante. Mas no Brasil há um racismo político muito forte, não só ideológico como o americano, interpessoal. O Brasil é um país escravocrata, continua sendo. O imaginário profundo é escravocrata. Você vê o caso do menino [mulato] amarrado no poste [no bairro do Flamengo, por uma milícia de classe média que o suspeitava assaltante] e que respondeu de uma maneira absolutamente trágica quando foi pego: mas meu senhor, eu não estava fazendo nada. Só essa expressão, “meu senhor”... O trágico foi essa expressão. Continuamos num mundo de senhores. Porque o outro era branco.
[...]
Depois do garoto do Flamengo ter sido amarrado por aquela milícia, ouvi trabalhadores negros pobres dizerem: tem mais é que botar bandido na cadeia, fizeram foi pouco com ele.
Ou seja, é um país conservador, reaccionário, em que os pobres colaboram com a sua opressão. Não todos, mas existe isso. A escravidão venceu no Brasil, ela nunca foi abolida. Sou muito pessimista em relação ao Brasil, digo francamente. Em relação ao passado e ao futuro. Em relação ao passado no sentido de que é um país que jamais se libertou do ethos, do imaginário profundo da escravidão, em que o sonho de todo o escravo é ser senhor de escravos, o sonho de todo o oprimido é ser o opressor. Daí essa reacção: tem mais é que botar esses caras na cadeia. Em vez de se solidarizar. E podia ser o filho dele facilmente. E às vezes é o filho dele.
Oswald de Andrade, o poeta, dizia: “O Brasil nunca declarou a sua independência.” Em certo sentido é verdade, porque quem declarou a independência do Brasil foi Portugal, um rei português. Eu diria: e tão pouco aboliu a escravidão. Porque quem aboliu a escravidão foi a própria classe escravocrata. Não foi nenhuma revolta popular, nenhuma guerra civil (discordo em certa medida, deste tema. Não que tenha sido diferente, mas também não acho que não houveram revoltas e guerras civis)
E em relação ao futuro sou pessimista porque... talvez ainda tenha um pouco de esperança, mas acho que o Brasil já perdeu a oportunidade de inventar uma nova forma de civilização. Um país que teria todas as condições para isso: ecológicas, geográficas.
[...]
O censo da população dá por uma unha uma maioria não-branca.
O agronegócio é na verdade o modelo gaúcho, desenvolvido no pampa, nos campos do Rio Grande. Plantação extensa de monocultura, de soja, de arroz, de cana. Então o Brasil está perdendo a oportunidade de se constituir como um novo modelo de civilização propriamente tropical, com uma nova relação entre as raças, que fosse efectivamente multinacional. Um país que se constituiu em cima do genocídio indígena, da escravidão, da monocultura. Que continua fazendo o que fez desde que foi criado, exportando produtos agrícolas. Que continua a alimentar os países industrializados. Primeiro a Europa, depois os Estados Unidos, agora a China. Continua sendo o celeiro do capitalismo.
[...]
Começou tarde a ser um activista/guerrilheiro. Porquê?
É uma questão interessante. A minha relação com o activismo na ditadura não foi receio físico. Não que eu não tivesse medo de enfrentar a repressão. Vi vários amigos presos, torturados, todo o mundo tinha medo. Mas não foi por isso que não entrei na luta contra a ditadura. Foi porque não acreditava nela, em tomar o poder para instituir uma nova ordem não muito diferente. Eu achava que era uma briga entre duas fracções da classe média alta para saber quem ia mandar no país. E eu não tinha a menor simpatia pela ideia de mandar no país.
Começou tarde a ser um activista/guerrilheiro. Porquê?
É uma questão interessante. A minha relação com o activismo na ditadura não foi receio físico. Não que eu não tivesse medo de enfrentar a repressão. Vi vários amigos presos, torturados, todo o mundo tinha medo. Mas não foi por isso que não entrei na luta contra a ditadura. Foi porque não acreditava nela, em tomar o poder para instituir uma nova ordem não muito diferente. Eu achava que era uma briga entre duas fracções da classe média alta para saber quem ia mandar no país. E eu não tinha a menor simpatia pela ideia de mandar no país.
domingo, maio 04, 2014
Isso pra mim é perfume.
Cheiro foi sempre uma coisa especial pra mim. Só quando vim pra São Paulo percebi que meu gesto de cheirar pessoas parecia estranho. Eu fui criada sentido cheiro, provando gostos pelo cheiro. E pelo cheiro sempre fui atraída (ou repelida).
Tive um namorado que tinha o cheiro do sofá da casa dele. Tinha "cheiro de cueca passada", como escreveu minha amiga Eni num conto que ela nunca publicou (isso nunca saiu da minha cabeça). Resultado? O namoro acabou, não só por isso, mas a verdade é que, quando o reencontrei meses depois e nos abraçamos, a primeira coisa de que me lembrei, quando me aproximei, foi do quanto esses cheiros me incomodavam.
Eu dou cheirinho, cheiro as pessoas, as comidas, as flores (tenho uma amiga que ao invés de me dar beijo no rosto, me dá um cheirinho no cangote, naquela cavidade do ombro, apaixono). Saio cheirando tudo. Eu não sei onde aprendi, mas sempre vi todo mundo perto de mim fazendo isso, então eu faço.
No começo, ele ria, dizia que eu parecia uma gata cheirando, coisa meio selvagem. Eu rebatia dizendo que nunca achei que existia mais virtude em ser mais humana e menos animal. Aliás, rebati dizendo que em alguns casos não via grande diferença. Ele ria quando eu punha o nariz em riste e examinava seu corpo pelo cheiro.Eu expliquei para ele a arte de cheirar e onde ou quando os cheiros ficavam assim ou assado. Ele não tomava nota, mas sempre prestava uma atenção quase solene.
Eu não entendia que isso tudo poderia parecer muito estranho. Só quando ele passou a me cheirar também eu percebi qual era a sensação que os namorados tinham quando eram cheirados por mim (alguns homens parecem custar a entender que, às vezes, um carinho que você faz nele é porque você quer receber também. Ainda bem que desse mal não ando morrendo). Foi engraçado, e aí eu entendi porque ele sorria e ficava sem jeito.
Suor, cheiro, língua, pelo, desejos. Não tem como separar, dizer o que não se quer ou não se gosta da pessoa amada. Eu quero tudo. Gosto de saber de tudo. Mas nunca tinha sabido ser cheirada. Agora, acho que ele está melhor do que eu, com toda a sua técnica corporal aliada às minhas técnicas milenares de cheiros e provas. Ele também se diverte.
Como você consegue ser tão bonita?
Como você consegue ser tão cheirosa?
Como você consegue ter cheiros diferentes aqui e ali?
Ele me pergunta. Eu quase nunca respondo. Eu sorrio.
quinta-feira, maio 01, 2014
Blasé.
Eu me surpreendo com as coisas (ainda).
Mas eu gosto disso. De me assustar. Com pessoas blasé.
Eu demorei pra descobrir isso. Eu chamo de blasé aquelas pessoas que acham que é virtude não demonstrar sentimentos. Ficar sempre com aquela cara de "isso não importa" para todas as coisas que você fala.
Eu não entendia isso como um valor e admiro Maria, que abre uma boca enorme para quase todas as coisas que você fala pra ela. E ri loucamente com as piadas, e se revolta antes de você terminar de contar uma coisa revoltante ou fica tristíssima com a morte da bezerra.
Aí o tempo passa e quanto mais você estuda e se mete com esse povo, parece estranho sentir. Encontrar um amigo na rua e demonstrar uma felicidade para além parece já loucura.
Por outro lado, no Facebook e nas demais redes sociais, as pessoas demonstram uma felicidade absurda, incontida. Na vida real, blasé. E no mundo virtual, tá tudo MUITO legal. Eu tenho medo, eu tenho medo.
Me deixem por aqui. Um moço no ponto de ônibus puxou papo e repetiu uma frase algumas vezes. Eu disse:
Isso é coisa de rede social, né? Eu descobri que quando uma pessoa repete muito uma frase no meio de outras, uma coisa sem sentido (mais ou menos um "só que não" ou um "fale-me mais sobre isso"), é coisa de rede social. Como não sou muito afeita a essas redes, foi um jeito que descobri de saber o que anda rolando, sem estar por lá.
Ele disse que eu era engraçada, mas ficou sem jeito. Tudo bem, ele parecia estranho ou coisa assim. Não estava preocupada se seríamos amigos. Definitivamente, não tenho a mínima intenção de ser blasé nem inventar um duplo de mim numa vida virtual. Quer dizer, há gentes que inventam pessoas mais legais do que elas são ou fingem ser outras, isso é mais que duplo. Isso é demais pra mim.
Minha avó, sem muita conversa, chamaria isso de hipocrisia, falsidade ou maluquice. A gente eufemiza tudo depois de uns quatro anos de universidade.
Me deixem por aqui. Um moço no ponto de ônibus puxou papo e repetiu uma frase algumas vezes. Eu disse:
Isso é coisa de rede social, né? Eu descobri que quando uma pessoa repete muito uma frase no meio de outras, uma coisa sem sentido (mais ou menos um "só que não" ou um "fale-me mais sobre isso"), é coisa de rede social. Como não sou muito afeita a essas redes, foi um jeito que descobri de saber o que anda rolando, sem estar por lá.
Ele disse que eu era engraçada, mas ficou sem jeito. Tudo bem, ele parecia estranho ou coisa assim. Não estava preocupada se seríamos amigos. Definitivamente, não tenho a mínima intenção de ser blasé nem inventar um duplo de mim numa vida virtual. Quer dizer, há gentes que inventam pessoas mais legais do que elas são ou fingem ser outras, isso é mais que duplo. Isso é demais pra mim.
Minha avó, sem muita conversa, chamaria isso de hipocrisia, falsidade ou maluquice. A gente eufemiza tudo depois de uns quatro anos de universidade.
Assinar:
Postagens (Atom)