Você que me lê, me ajuda a nascer.
domingo, julho 28, 2013
sexta-feira, julho 26, 2013
domingo, julho 21, 2013
quinta-feira, julho 18, 2013
Mudanças (e permanências).
O doutorado se aproxima. Vou fazer coisas que gosto de novo, ter aulas, fazer pesquisa. Mas dessa vez quero só estudar, viajar, fazer outras coisas que não trabalhar. Não sei se vou conseguir fácil, porque adoro o que eu faço. Sou um caso atípico de pessoa que trabalha porque ama (bom, é certo que eu gostaria muito de trabalhar menos e ganhar mais, mas continuaria na mesma profissão).
Lá vou eu.
Encontrei duas colegas de jornada e ficamos algumas horas relembrando nossas histórias de superação. Isso tudo porque a gente vai escrever um artigo juntas. Foi gostoso, porque de algum modo fazia parte do trabalho conhecer o que pensávamos sobre nós mesmas e a vida. E me senti melhor sabendo (de novo) que não estou sozinha nessa caminhada.
Eu sei que não estou. Mas eu me sinto sozinha, desamparada, muitas vezes. Eu ainda me espanto com o fato de não ter me acostumado com São Paulo estando aqui há quase dez anos. Dia desses eu falei "cuba de gelo" e um amigo riu, dizendo que nunca mais tinha ouvido essa expressão. Até eu ri, falei sem traduzir.
Não me acostumei e fico banza, vez ou outra. Alguma coisa acontece no meu coração e nem preciso cruzar a Ipiranga com a São João. Aí eu corro a cidade e volto pra casa. Chego no Grajaú e as coisas se acalmam, não entendo. Um amigo diz que eu não gosto de São Paulo, mas gosto do Grajaú. Ele tem razão.
Grajaú me lembra coisas de outras épocas, gosto da visão de casas e ruas largas, as pessoas na rua.
Gosto de conversar com as pessoas, de ganhar tempo andando devagar e reparando nas coisas. Eu fico melhor aqui, e cada vez melhor entrando cada vez mais dentro da zona sul. Não sei se tem a ver com fato de me reconhecer na cara e nos gestos das pessoas desse lado da ponte pra cá, eu sou elas e elas sou eu. Estou em casa, mesmo na rua. Não preciso correr.
O mais engraçado (ou louco) é que, quando a gente se sente sozinha, a gente vai se acostumando a ficar só, pra aprender a ficar só. E depois, vai passando para um outro estágio (que me assusta também), o de começar a gostar de viver só, não querer mais conviver com outras pessoas.
Paradoxal isso. Contraditório, mas eu também aprendi com a idade que a vida é mais incerteza e a tensão da contradição do que certeza e calmaria. Aliás, fico pensando às vezes que deve ser pra isso mesmo que a gente vive. Para pagar a língua, contradizer-se.
Tenho mil ideias na cabeça, mas uma ideia é fixa: voltar para casa. E não de qualquer jeito. Eu quero voltar, mas de um jeito, fazendo o que gosto, tendo as minhas liberdades, porque não quero arrepender-me de ir assim, de cara. Brigar com o mundo. Quero ficar em paz, ter sensação de dever cumprido comigo mesmo.
Mas isso implica às vezes em aprender tudo de novo.
Aprender, por exemplo, que namorar é bom não apenas porque você tem alguém para beijar e abraçar, mas para descobrir mais sobre você. Coisas ruins também. Dividir, conviver. Coisas que com o tempo de solidão a gente vai desaprendendo (porque tem que desaprender, para não ficar louca. A gente aprende a fazer coisas só para não sofrer de solidão. Depois, se aparece alguém, pena junto para aprender a conviver). Não sei dividir problemas, por exemplo. Não acho que ninguém mereça ouvir meus lamentos (na maioria da vezes, acho que nem posso me lamentar muito e vejo que sou uma mal-agradecida. Tudo isso porque, convivendo com alguém, tenho essa noção mais ampliada). Mas descobri que, quando alguém te ama, ela quer saber o que te deixa triste e quer ficar ali, mesmo pra fazer nada. Mas eu não sei lidar com isso.
É preciso paciência.
Lá vamos nós.
Eu, ranzinza.
Quando não gosto, não gosto. Já perdi muita coisa por causa disso, mas não vou ficar lutando contra, quem quiser gostar de mim eu sou assim. Agora que já vi Paulinho da Viola é que falo isso com mais gosto ainda. Há algumas coisas que me deixam adoecendo. E eu nem sei porque. Gentes que me deixam a ranzinzar. Não sei direito, mas de repente acontece. Uma palavra ou gesto e aquela pessoa não me desce mais. Sou chata, chata. E não consigo mudar assim depressa.
Nem tento, também. Eu sou assim e gosto de ser assim. Gosto de partes de mim que parecem defeitos. Aliás, são defeitos. Eu sou eufemista com meus defeitos e digo que eles só parecem defeitos, mas eles são.
Bom, eles são para outras pessoas, para mim são minhas características. E é por isso que sou tão apegada a eles. Sabe Clarice, a tal Lispector? Ela diz:
Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.
Então pronto. Uma das minhas características que mais me identificam, por exemplo, pode beirar a sociopatia. Eu só falo com quem eu gosto. Digo, eu convivo com pessoas que não gosto (descobri bem tarde que não preciso gostar de todo mundo, o pensamento romântico-cristão me seduziu muito tempo), mas muitas vezes sou forçada a isso e não é porque quero. Mas, se é alguém que posso dizer não, eu digo numa boa, sem pena, sem medo e nem vergonha. Eu fecho a portinha da minha vida na cara dela. E não fico triste. É só um jeito de resolver as coisas, eu não quero que ela mude de vida nem de ideia para ser minha amiga, às vezes não é nada, é uma coisiquinha que eu não gosto e não vai valer a pena para ela mudar tudo, nem vai valer a pena para mim mudar tudo, deixemos como está. Simples assim.
Não vou morrer, nem ninguém. Estou ficando velha há anos e penso assim há tempos. Por outro lado, há gentes que chegam há pouco e já quero dizer eu te amo. Eu sou completamente louca.
Eu ouço música, converso com crianças, leio livros, para melhorar. Mas às vezes não adianta muito.
Minha mãe é uma peça.
Recomendo ver O Riso dos Outros, documentário disponível no Youtube, antes ou depois do filme:
terça-feira, julho 16, 2013
quinta-feira, julho 04, 2013
Das coisas que se aprendem.
Eu gosto de ouvir as crianças falarem. Eu gosto. Não é que posso fazer isso sempre, mas quando eu posso, eu gosto.
Semana passada uma das crianças chamou o pai da colega de feio. Conversando com ela, perguntei:
- E seu pai, você acha feio também?
Ela ficou em silêncio. Eu repeti a pergunta, a cara dela foi murchando, parecia triste. Ela não respondia. Depois de um tempo, ela disse:
- Ele é negro.
E não disse mais nada. Como se tivesse respondido que sim. Fiquei triste com ela, triste junto.
Ontem, foi um menino. Ele vive falando de namoro com as meninas da sala. Perguntei para ele o que era namoro. Ele disse que namoro era coisa do diabo. Eu perguntei o que era o diabo.
- É um homem preto.
Perguntei à ele se ele era branco. Ele disse que não com a cabeça. Perguntei se ele tinha um pouco de preto na pele. Ele me disse que sim. E riu sem jeito.
Das coisas que se aprendem (e não são legais).
Semana passada uma das crianças chamou o pai da colega de feio. Conversando com ela, perguntei:
- E seu pai, você acha feio também?
Ela ficou em silêncio. Eu repeti a pergunta, a cara dela foi murchando, parecia triste. Ela não respondia. Depois de um tempo, ela disse:
- Ele é negro.
E não disse mais nada. Como se tivesse respondido que sim. Fiquei triste com ela, triste junto.
Ontem, foi um menino. Ele vive falando de namoro com as meninas da sala. Perguntei para ele o que era namoro. Ele disse que namoro era coisa do diabo. Eu perguntei o que era o diabo.
- É um homem preto.
Perguntei à ele se ele era branco. Ele disse que não com a cabeça. Perguntei se ele tinha um pouco de preto na pele. Ele me disse que sim. E riu sem jeito.
Das coisas que se aprendem (e não são legais).
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