Pauline Chiziane, autora de Niketche
Há mais de quatro anos, um amigo vem me falando para ler Niketche. Moçambicano, conhecia a obra bem antes de vir para o Brasil. Comprei o livro no ano passado, e estava na lista de livros para ler. A vez dele chegou. Devorei 100 páginas de uma só vez e voltei para começar de novo. Vai ser daqueles livros que eu não quero que acabe.
Niketche: uma história de poligamia conta parte da vida de um mulher que procura saber porque seu homem tem outras mulheres. Ela parte em descoberta disso e acho que em busca de descobrir quem ela é ou que mulher se tornou, na lida com esse homem. Há várias passagens que me emocionaram, não daria para escrevê-las todas aqui. Especialmente agora, na situação em que me encontro, eu própria perdida e confusa em sentimentos não tão meus, mas sentidos em mim.
Reproduzo aqui apenas um dos pensamentos altos de Rami, uma de muitas heroínas que conheço:
Amor. Tão pequena, esta palavra. Palavra bela, preciosa. Sentimento forte e inacessível. Quatro letras apenas, gerando todos os sentimentos do mundo. As mulheres falam de amor. Os homens falam de amor. Amor que vai, amor que vem, que foge, que se esconde, que se procura, que se encontra, que se preza, que se despreza, que causa ódios e gera guerras sem fim. [...] O amor é fugaz como a gota de água na palma da mão.
Um amigo perguntou-me se para o amor havia tempo. Se se podia amar por um mês, por dois segundos. Eu acho que sim, eu acho que eu não posso julgar o amor alheio. Se alguém diz que ama, eu acredito. Mas eu também acho que é preciso ter coragem para reconhecer que dizer que ama alguém traz responsabilidades, por isso talvez algumas pessoas levem mais tempo para dizer que amam. Amor é compromisso, é cuidado. Não serve só para descrever uma sensação boa de companhia, uma vontade de ficar perto. Acho que nós exercitamos tão pouco nosso vocabulário amoroso que, quando estamos plenos, felizes demais, a gente acha que só um eu te amo vai servir para dar a dimensão do que estamos sentindo. E a gente fala. E a gente quer ouvir também. Mas às vezes, um "eu vou ficar contigo mesmo com todos esses problemas rondando nossa vida" contenha mais amor que eu te amo.
Recentemente, imaginei se eu continuaria namorando se a pessoa com quem eu estava sofresse um acidente e ficasse tetraplégico. Não soube responder e chego a pensar que a resposta final seria não. Ao mesmo tempo, nunca tinha duvidado do meu amor por ele. Ficaria junto se ele tivesse um filho com outra mulher? Talvez. Ficar junto, quando tudo ao redor parece dizer não, isso talvez contenha mais amor do que a frase eu te amo.
Um amigo disse "tem o gostar e tem a poesia do gostar". Os dois são bons, mas é preciso estar certo das consequências que cada uma dessas coisas implicam. O que me preocupa é perceber que as pessoas falam e fazem coisas como se pudessem não pudessem implicar outras. Eu te amo, mas agora não quero mais pra depois querer de novo? Isso tem implicação. São escolhas, e é preciso lidar com as consequências.
Me pego paranóica com isso porque talvez eu sempre tenha tido que pensar no que vai ser. Não tive muitas possibilidades de viver "ao sabor do vento". Quando pequena, lembro de mainha estocando alimentos por medo de perder o emprego. Hoje, acho que no plano material ou emocional, espiritual, eu fico me perguntando onde as minhas decisões vão me levar. Acho que isso pode ser qualidade ou defeito, mas acredito que seja parte de minha pequena natureza humana.
É preciso sustentar o amor, ele não vai sozinho. Mais jovem, eu não achava isso tão importante. Ficava nessa de curtir o momento. Com a idade, eu aprendi que posso curtir e sustentar. Uma coisa não exclui a outra.
Amor, sabe? É tudo isso também, mas precisa ser mais. Porque é.
Um comentário:
Você voltou a escrever. O que aconteceu?
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