O nome dele escrevia assim mesmo. Puxou papo comigo no avião. Pra muitas pessoas, um intrometido. Me viu escrevendo um email no Ipad e perguntou se lá em cima tinha conexão. Expliquei que não, que só tava adiantando as coisas. A conversa começou.
Domeniko foi uma das melhores companhias de avião que já tive. Tanto que, quando desci do avião e peguei o ônibus até o metrô, a moça que estava ao meu lado e que também viajava comigo no voo disse que tinha ouvido nossas risadas da fileira de trás. Domeniko tinha ido fazer um concurso público e tinha machucado o pé na praia num ouriço-do-mar. Reclamava que comissários não eram amáveis quando passavam pelo corredor e batiam no seu ombro.
Tendo nascido paulista, morado em Goiânia e agora vivendo em Brasília, era uma incógnita pra mim. E ficou mais ainda quando revelou seu profundo interesse por questões espirituais. Contou-me algumas de suas experiências em alguns grupos que despertavam para a espiritualidade e o autoconhecimento. Fiquei interessada, ouvi atentamente e já procurei informações via Google.
Domeniko tinha um bom astral, me falou da sua mulher e filha. Perguntei o segredo da felicidade depois de 14 anos juntos. Ele me falou do amor que sente pelas duas, e que o casamento vale a pena (aliás, eu encontro bastante homens que pensam assim por aí. O taxista que me levou para Ponta Grossa me falou das belezas do casamento - enquanto que aquele que me trouxe de volta à Curitiba falou o contrário de tudo que o da ida. Além destes, uma outra companhia de viagem me falou de sua história de amor com a mulher que já durava uns bons oito anos).
Disse que ainda há tesão e sentimento, e que sem independência financeira ele talvez não se sentisse seguro para sustentar o amor. Por isso, faz o que pode para ter um emprego no qual possa dar um conforto à sua família. Ele disse que sente desejos por outras mulheres. Mas não acha que uma noite vale por tudo isso que conquistou. Há outros prazeres além do sexo, é preciso descobrir. Eu fico preocupada se, num mundo tinder, as pessoas vão conseguir descobrir esses outros prazeres além do sexo. A coisa do pegue e pague acelera e tira o gosto de muita coisa que tem sabor na vida. E aí talvez, vá saber, o sexo se torna, além de uma das poucas formas de prazer, um modo de demonstração possível de masculinidade para homens com poucos recursos para sentirem-se homens.
Eu sei que muitos homens pensam como Domeniko, mas não dispoem de oportunidades. Mas sei também daqueles que, tendo possibilidades de encontrar-se num relacionamento, omitem suas fraquezas e dizem que o fim do casamento é sempre um problema fora deles. Pra esses, talvez funcione uma coisa chamada autoconhecimento. O que não vem, necessariamente, com a solidão. Pergunto a ele se a mulher o acompanha nessas empreitadas. Ele diz que ela é cética. E muda de assunto. Era bonito ver que ele tinha e vida e crença própria, mas isso não bagunçava o que ele sentia por ela.
Ele me deu seu cartão de visitas, é advogado. Nunca se sabe quando podemos precisar de um. Disse "minha mulher é ciumenta", e riu. Eu ri também.
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