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quinta-feira, janeiro 14, 2010

Terreiro de Mãe Stella sofre assalto em São Gonçalo do Retiro.



Publicada em 06/01/2010

Crédito: Correio*































Desrespeito à religião e ao ser humano. É assim que os moradores e frequentadores do espaço onde funciona o terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, de Mãe Stella, interpretam a série de assaltos que vem sendo realizada no local. Em uma semana, bandidos invadiram o local, no São Gonçalo do Retiro, pelo menos três vezes.
Na manhã da última segunda- feira teve até tiroteio: moradores contam que, em perseguição a um bandido que usou o terreno como rota de fuga, policiais abriram fogo dentro terreiro, assustando quem estava por perto.
A polícia afirma que diversas quadrilhas de traficantes agem no local. A ousadia dos criminosos é tanta que a administração do terreiro está construindo um muro para isolar o espaço dedicado ao candomblé da invasão da Baixinha do Santo Antônio. Os bandidos, irritados com a obra, já avisaram: vão derrubar a construção.
“Eles já mandaram recado dizendo que vão fazer buracos no muro ou derrubar. Isso porque vai fechar o acesso deles a um campo de futebol usado por eles no fim do terreno. Lá, eles embalam droga, jogam bola, consomem o material entorpecente ou se escondem, quando a polícia está por perto”, conta um funcionário do terreiro que, com medo, pede para não ser identificado.

Arrombamentos
As marcas da violência estão por toda parte. As casas de pelo menos seis orixás já foram arrombadas e tiveram os nomes das entidades, feitos em cobre, arrancados da fachada. “Não tem mais nome nas casas de Oxum, Oxalá, Yemanjá, Ogum, Omolu e Xangô”, completa o funcionário.

De acordo com a Ebami (filho de santo mais velho em obrigações) Helena Silva de Menezes, filha de mãe Stella, morar ali ficou perigoso. “Posso listar para quem quiser quantas invasões já aconteceram aqui. Outro dia, chegando em casa com meu neto de 15 anos, um bandido estava na minha porta, com três armas. Queria vendê-las para meu neto por R$50 cada”, lembra, indignada.
Segundo ela, há uma semana o terreno é invadido quase diariamente. No dia 29, bandidos invadiram o quarto de Yemanjá. No dia 2, foi a vez de o quarto de Oxum ser revirado. Bandidos entraram pela janela e levaram R$5 que estavam como oferenda ao orixá. “Vou repetir o que diz minha mãe: é puro vandalismo. Esses garotos querem dinheiro para comprar droga”, avalia Helena.
“Eles já mandaram recado dizendo que vão fazer buracos no muro ou derrubar. Isso porque vai fechar o acesso deles a um campo de futebol usado por eles no fim do terreno. Lá, eles embalam droga, jogam bola, consomem o material entorpecente ou se escondem, quando a polícia está por perto”, conta um funcionário do terreiro que, com medo, pede para não ser identificado.
Suspeito
No domingo, outra história engrossou a violência no terreiro. O aposentado Fernando Costa, 60, morador de uma casa no terreno, foi a última vítima . De acordo com vizinhos, ele saiu de casa para comprar pão, foi até o portão do terreiro e percebeu que estava sem dinheiro. “ Quando voltou, a casa estava arrombada, a TV nova, de 14 polegadas, havia sumido e o salário dele inteiro, R$750, que eles escondia numa bíblia dentro do guarda- roupas também havia sumido”, contou o irmão de Fernando, Dario Costa.

Um dos seguranças do terreiro reconheceu o invasor do fim de semana. O caso foi registrado na 11ª DP (Tancredo Neves) e a polícia agora procura um homem, que é vizinho do terreno, identificado como Marquinhos. Os agentes investigam a relação dele com criminosos da invasão Baixinha de Santo Antônio.
Com relação ao crescimento da violência no local, o delegado titular Adaílton Ada disse que a polícia não pode fazer o papel de vigilante do terreno. “É uma propriedade particular. Não temos como tomar conta. Eles precisam contratar mais seguranças”, afirmou.
Bandidos roubam objetos sagrados e oferendas à orixás
De todos os ataques, dois são os considerados mais graves pela filha de Mãe Stella, a Ebami Helena de Menezes: o ataque à casa de Xangô e à casa de Oxalá. Na primeira, os criminosos invadiram durante um ritual, deixando a mãe de santo em pânico naquele momento. Dela, ele levou dinheiro, jóias e outros objetos de valor usados na decoração do quarto.

Já no espaço dedicado a Oxalá, os criminosos entraram após fazer um buraco na parede lateral da casa e também levaram, além de imagens e objetos sagrados, material de trabalho dos rituais, dinheiro de oferendas e jóias dos religiosos que cuidam do espaço. “Estamos perdidos, precisando de ajuda. Não se respeita nem mais a fé”, lamenta Helena, que deverá comparecer à 11ª delegacia ainda esta semana para prestar depoimento sobre os crimes.
Terreiro tem 100 anos de história
Localizado em São Gonçalo do Retiro, o Ilê Axé Opô Afonjá (em português, Casa da Força sustentada por Xangô) é um dos terreiros mais antigos do país, fundado em 1910 por um grupo dissidente do Terreiro da Casa Branca. Com espaços para celebrações religiosas e outros destinados à moradia, o terreiro é cercado por extensas áreas de vegetação fechada, que ocupam mais de 2/3 da área total de 40 mil metros quadrados.

No local, destacam- se o barracão principal, onde são realizadas as festas e a Casa de Xangô - orixá do terreiro, além da Escola Municipal Eugênia Anna dos Santos, em homenagem à fundadora do terreiro. Desde 1976, o Ilê Axé Opó Afonjá é comandado pela mãe de santo Stella de Oxóssi, hoje com 84 anos, notabilizada por combater o sincretismo religioso com a Igreja Católica
Histórico
Inauguração - Em 1910, por Eugênia Ana dos Santos, que hoje dá nome à escola municipal que funciona dentro do terreno do terreiro.

Sacerdotisas - Mãe Aninha (1910-1938), Mãe Bada de Oxalá (1939-1941), Mãe Senhora (1942-1967), Mãe Ondina de Oxalá (1969-1975), Mãe Stella de Oxóssi (1976 até hoje)

Tombamento - O terreiro Ilê Axé Opô Afonjá foi tombado como patrimônio histórico nacional pelo Iphan em julho de 2000.
publicado em Além da Notícia
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Pior do que ler isto aí, é ler o suposto jornal baiano (Correio da Bahia) fonte da informação dizendo que "os ladrões não tem mais medo dos orixás". Como se segurança pública e má distribuição de renda fosse culpa de outros seres e não os humanos.

2 comentários:

Wanasema disse...

Olá, Migh! Tudo bem?
Infelizmente, a violência direcionada e preconceituosa retratada nesta matéria virou rotina aqui no Rio de Janeiro.

Muito simpático o seu espaço!

Um grande abraço do
Ricardo Riso

Migh Danae disse...

Obrigada!