Uma cena no filme Lula, o filho do Brasil me fez chorar. Nada não. É a hora em que Dona Lindú recebe a notícia que seu filho Ziza foi preso. Ela está fora de casa, num pátio externo, lado esquerdo da casa. Ela chora, e na sua frente, muitas plantas. Fiquei pensando na doçura da cena, por que essa coisa de ter planta em casa parece coisa de antigamente. Muitas plantas eu digo, e não uma plantita aqui ou ali. Pensei como a cena foi montada, quem deu ideia das plantas, a feliz ideia, agora o filme vai, pensei eu, digo, emplacou, não ficou fake nem apelativo, é só ela chorando e as plantas, entendam o que quiserem, fui eu quem entendi assim. Talvez ninguém ligue para isso. Talvez apenas eu perguntasse isso numa entrevista coletiva com o diretor. Talvez nem ele soubesse responder.
Fiquei emocionada só por que lembrei de minha mãe – hoje ela voltou para casa serelepe por que encontrou uma muda de uma roseira na rua dando sopa, veio trazendo animada me contando como é que a planta vai crescer, onde vai por, detalhes. Fiquei lembrando da minha casa cheia de plantas. E como essa cena diz muito sobre Dona Lindú e Caetés. Em Pernambuco e Bahia, em pessoas que gostam de plantas e não, isso não é bobagem.
Quem cresce vendo planta e bicho crescer não consegue se desvencilhar disso fácil. Tenho por perto pessoas que são assim, que saem da roça e substituem o bode que criavam por algum animal doméstico – fiquei surpresa quando uma aluna minha de seis anos disse que tinha uma galinha que se chamava Brenda –, vão se arranjando com essas mudanças que a cidade grande traz, para não empedrar o coração, para não esquecer de vez como é a canção e a história com final feliz.
Eu cá no meu canto fico me perguntando quando e onde foi que a gente perdeu essas coisas todas. Esses costumes, conexões. Fico me perguntando também onde viveram quando crianças as pessoas que hoje acham tudo isso uma grande bobagem e não veem sentido na vida. Bom, não ver sentido na vida pode até ser compreensível para alguém que pensa assim.
Aproveitando o ensejo, vem aí O Jardim das Folhas Sagradas, de Pola Ribeiro.
Um comentário:
sabe,
gostei da postagem desta quinta, 7. aliás, saiba, tenho lido todas com atenção desde a semana passada. esta que fala do choro e das plantas de Dona Lindu, então. o filme, já adiei por duas oportunidades esta semana lá na sala do museu (vitória). mas já decidi - assisto até o próximo domingo, dia 10/01.
isso que você afirma é verdadeiro "quem cresce vendo planta e bicho crescer não consegue se desvencilhar disso fácil". completamente verdadeiro.
a sua crônica, me tocou em especial porque também tenho uma relação muito forte com as plantas.
esse gosto pelas árvores, pelas flores, pelos caules, pelos frutos me foi despertado pela minha mãe quando eu era guri. como somos oito filhos, havia uma escala para molhar as plantas.
há muito tempo minha mãe, dona lourdes, cultivava uma centena de plantas medicinais na frente da nossa casa. todas em meio às graxeiras, palmeiras, rosa-menina, espada-de-ogum, crotos, espirradeiras, lá estava a boa-vontade dela em cuidar das maria-preta e erva cidreira, do capim-santo, alumã... minha mãe, mesmo desconhecendo, era um xamã, uma bruxa, uma enfermeira popular. ah como me lembro, era comum já no recolhimento da família, portas e janelas já fechadas, alguém bater palma, gritar o nome dela ou bater à porta em busca de uma cura. ela, sempre gentil, ensinava como usar, as dosagens...
ah, minha velha. é dela também um frase que até hoje eu repito "plantas são que nem gente. sofrem, têm fome e sede. é por isso que tevemos que cuidar delas". ah...tenho mais coisas pra contar da minha relação com as folhas, com os caules, com os cipós, com as frutas, com as raízes, com os galhos... coisas ensinadas por dona lourdes.
10:00 PM, Janeiro 08, 2010
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