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segunda-feira, janeiro 13, 2014

Amar (era só isso que eu queria da vida).

Carlos Drummond de Andrade 

Que pode uma criatura senão, 
entre criaturas, amar? 
amar e esquecer, 
amar e malamar, 
amar, desamar, amar? 
sempre, e até de olhos vidrados, amar? 

Que pode, pergunto, o ser 
amoroso, 
sozinho, em rotação universal, senão 
rodar também, e amar? 
amar o que o amar traz à praia, 
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, 
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia? 

Amar solenemente as palmas do deserto, 
o que é entrega ou adoração expectante, 
e amar o inóspito, o áspero, o 
cru, 
um vaso sem flor, um chão de 
ferro, 
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, 
e uma ave de rapina. 

Este o nosso destino: amor sem 
conta, distribuído pelas coisas 
pérfidas ou nulas, doação 
ilimitada a uma completa 
ingratidão, e na concha vazia do 
amor a procura medrosa, 
paciente, de mais e mais amor. 

Amar a nossa falta mesma de 
amor, e na secura nossa amar a 
água implícita, e o beijo tácito, e a 
sede infinita. 



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