Antes de começar a escrever, fiquei pensando em amor e dor. Mas depois achei melhor as palavras sem rimas, como felicidade e certezas.
Sonhei com um elevador caindo. Eu estava nele junto com uma pessoa. Saía ilesa, e lembro-me que estávamos os dois muito calmos. Me disseram que esse sonho significava que aconteceria comigo uma coisa com a qual eu não estava preparada, muito de repente. Engraçado, aconteceu.
De repente, sem esperar, e doeu. Se já doem coisas como a morte de uma pessoa que está muito doente, imagina se você descobre que alguém que nem doente estava, morreu. Eu chorei.
Mas não, ninguém morreu, antes que as palavras aqui possam parecer que a tragédia foi essa. Morreu alguma coisa, mas não foi gente. O que morreram foram as rimas.
Dentro de mim, mas fora também. Estou despedaçando. Fiquei pensando no livro A Espuma dos Dias, de Boris Vian, que acabei de ler. Não gostei muito do livro, a não ser essa passagem:
[...] Contentava-se em esperá-lo, e contentava-se em estar com ele, mas não se pode aceitar isso de uma mulher, que ela fique com você só porque te ama. Ele também a amava [...] (p. 192)
Depois, lendo sobre a vida de Fela Kuti, Carlos Moore comenta que ele
via o casamento como um acordo solidário assumido por indivíduos em busca de completude; um lugar íntimo em que preocupações sociais e prazer físico convergiam e não uma instituição inspirada por deus e que nos foi transmitida em uma embalagem lacrada cheia de regras de comportamento. Tratava-se de laços forjados em torno de sentimentos mútuos, de um projeto de vida comum, de uma visão social compartilhada, e da união de recursos entre pessoas para realizar objetivos assumidos, também, em comum
(p. 20)
Livros tão diferentes, mas que me fizeram pensar em mesmas coisas. Gostei dessa definição de casamento de Fela, e acho que Chik, personagem em A Espuma dos Dias, tem razão sobre Alise. Mas também não sei juntar as duas coisas. E também não sei se quero me fazer entender.
O que eu quero, de verdade, não escrevi aqui. Nem vou escrever.
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