Gostando ou não, a gente acaba um monte de coisas quando o ano acaba. A gente programa para não fazer algumas coisas, para fazer um monte de coisas novas, a gente se promete. Mas nunca dá. Por isso, não fico paranóica com projetos para o ano seguinte. Vou devagarzinho vivendo. Acho mesmo que seria ótimo se na noite do dia 31 de dezembro todo mundo ficasse em silêncio, nas suas casas, como nos outros dias. Dormindo, lendo, cozinhando, sei lá, mas em silêncio. Ia ser bem diferente, divertido.
Essa coisa de Ano-Novo põe a gente numa expectativa e tal, acho até gostosa essa sensação que dá de recomeço. Mas ela não pode ser falsa. Muitas vezes é só fogo de palha e aí não tem graça nenhuma. Toda hora a gente pode recomeçar, pode perder e ganhar, desculpa, por favor, licença e obrigada. Tem coisa legal acontecendo o tempo todo, tem coisa que não espera 2010 chegar, sempre tem coisas.
E eu gosto delas.
Fico aqui pensando nele por estar aqui. Essa cidade cheira a saudade. Aí vem saudade de muitas coisas que eu finjo querer muito, até para querer voltar mais depressa. Eu construo os sonhos também, eu minto até para mim, para que pareça bonito querer alguém como quando eu era adolescente, ler poesia, lambreta e cerveja e ele na cachola. Combina mais. Mas ele nunca vai entender, e nem quer, e acho que nem eu, e talvez fim. Talvez exista só para escrever palavras desesperançadas, para mexer as coisas aqui dentro e botar perigo na vida, a gente sempre gosta de um pouco de perigo, aventura e desejo, excitação. Só não entendo por que ele me toma assim, arremata, arrebata. E não me redime. É simplesmente constrangedor esse sentimento. Mas é só para mim. E eu tenho certeza que por isso, nada acontece. Eu nem fico mais ansiosa. Eu fico sem entender só a sensação de que não precisava ser assim, que eu vou conseguir resistir, mas eu venho aqui e ele me toma de novo, e sempre, e mais. E sempre e mais, e nunca é diferente, por mais experiência que eu tenha na vida, por mais historinhas que eu colecione, é sempre a mesma droga de sensação de que poderia. Essa hesitação da angústia, essa poesia do gostar. É mais forte do que eu.
Tento não fazer nada além de pensar e escrever aqui. Mas às vezes, me perdoem, eu não consigo. Tento não estar presente, sair de fininho, sem proposições. Mas, creiam, é difícil. Igual bicho-de-pé de Gena Guimarães em A Cor da Ternura (livro): fica ali, coçando, e quando ele morre a gente sente falta, e quer coçar, é uma coceguinha boa de sentir, e depois, ele está ali, ao meu dispor, minhacoceguinha. Egoísmo? A gente nunca sabe amar mesmo. Desvontades.
Someaparecesomesomesomesomeaparecesorrisomesomesome!
Some... (!)
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