Você que me lê, me ajuda a nascer.
domingo, dezembro 13, 2009
Ruth de Souza e a infância.
Não dá para não chorar junto com ela, Ruth. No livro Ruth de Souza, Estrela Negra (Coleção Aplauso, Ed. Imprensa Oficial), Maria Angela de Jesus escreve
Criança de seus dez anos, ela estava na casa de uma das famílias para quem a mãe lavava roupa, fazendo-lhe companhia. Na rua, um vendedor passa oferecendo mangas.
- Olha aí, criançada, venha ver manga sem caroço.
A dona da casa imediatamente responde:
- Aqui não tem criança.
Sem compreender, a pequena Ruth pensa:
- Mas eu sou criança.
Ao reler essa passagem, algum tempo depois, em nosso último dia de trabalho, quando já estamos no processo de revisão final dos originais, seus olhos novamente enchem de lágrimas. Para por alguns instantes e repete, como se fora a menina de 10 anos: "Mas eu sou criança"
Fico pensando nisso e em como matamos todos os dias nossas crianças. Quando as ensinamos a ser adultas e quando não aprendemos nós, imbecis que somos, a sermos crianças. A conservarmos em nós o espírito infantil. Infantil hoje é sinônimo de coisa imatura, sem experiência. Pois eu prefiro ser infantil a ser perversa. E adulta.
Sim, eu me recuso. Por mais que queiram dizer para mim que as gentes já não tem mais jeito, eu insisto, insisto por mim, pelas crianças, pelos bichos e paisagens: pelas coisas impregnadas de amor, como o único brinco que minha mãe me deu, como um presente ouro negro. Me recuso conscientemente a fazer parte do jogo sujo das adultices, do controle, da mesura, do comportado. Quero e vou sair do sério, fazer careta, gritar bem alto, subir no pé de árvore, deixar que a criança em mim voe e encontre lugares que eu mulher nunca encontrarei, cansada, amargurada, fragmentada, doída. Por que é só pelo amor às crianças que ainda vale a pena continuar lutando.
E por mainha, é claro.
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2 comentários:
migh eu estava quase me revoltando com o mundo, qdo de repente eu encontrei um e-mai seu super antigo....e tinha esse link...li esse texto e ao invés de me revoltar ou ativar minha criança...poxa tô com saudades de vc..
bjs
viviane oliveira
Pretinha, que bom ler isso. Em tempos de desamor e muita guerra, é bom saber que tem gente que gosta de mim!
Cheiro preto,
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