Acordaram-me. Não acreditei, desliguei o telefone. Ele ligou novamente. Disse-me estar bêbado. Perguntou se havia me acordado, acho que para quebrar o gelo. Ficou pior, resmunguei um sim e já estava desligando quando ele emendou, num portunhol que nunca havia tentado comigo. Logo ele, que sempre tinha falado comigo em espanhol, que sempre tinha sido ele mesmo.
Pensei em desligar, mas ele emendou:
Passei a noite bebendo, assim tomava coragem para falar com você. Você sabe que eu gosto de você faz tempo, mas você acha que é brincadeira. Eu quero viver com você. Estou disposto a mudar minha vida para ficar contigo. Você quer ir embora, vamos. Eu vou para onde você quiser. Eu sei que não sou brasileiro e não tenho pegada. A tal pegada, é isso. Eu sei. Mas eu quero você. Você não acredita em mim
Fiquei calada. Não consegui dizer muita coisa. Tentei enrolar uns motivos, mas a verdade é que não ia adiantar dizer qualquer coisa, nada. Ele só estava dizendo que me amava, do jeito dele, há três anos. O que fazer, o que dizer. Ele começou a chorar, a ligação caiu.
Não consegui mais dormir. Fiquei pensando em todas as conversas que eu e ele tivemos, e em como eu não consigo ver nada que nos ligue, assim, para termos uma vida juntos. Não sei os motivos do amor, do amor dele. Mas, de algum modo, escrever isso aqui, registrar, é um modo de mostrar meu respeito a este sentimento. Não posso corresponder do modo que ele gostaria, mas sinto que são essas coisas ao meu redor que me fazem bem, me fazem feliz e melhor. Esse amor, de algum modo, chega em mim. Sei também que isso, para ele, não serve para nada. Mas, para mim, amar ainda é mais importante do que ser correspondida.
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