Fotos: Militão de Azevedo
Fui ver o monte de fotos que Militão de Azevedo fez de negros e negras livres no começo do século vinte, estão lá no Museu Afro-Brasil.
Fiquei ali, extasiada, olhando para os cabelos daquelas moças e senhoras, pensando em como poderia fazer algum daqueles penteados em mim, lembrando de minhas parentes, colegas, senhoras mais velhas, que também punham o cabelo daquele jeito.
Lembrei de uma amiga, cabelo liso, que uma vez me disse,
adoro seu cabelo, do jeito que você bota, ele fica
Mas todo mundo tem suas coisas com cabelo. Eu tenho as minhas, ela tem as delas. O que é mais legal é aprender, todos os dias, a gostar de si mesma como se é. Eu pelo menos acho (sinto saudades demais dessa moça).
Fiquei ali, parada, olhando cada foto, uma a uma, demoradamente, aprendendo sobre mim, vendo de onde vinham minhas coisas.
Essa semana também fui ver a exposição Joias de Crioula, na Caixa Cultural. Me peguei chorando, emocionada, ao pensar que aquelas joias deveriam estar com suas famílias, herdeiras que são de todo aquele ouro e exuberância. As fotos me arrancavam ainda mais lágrimas, pois eram fotos sem nome, apenas com o codinome "crioula baiana". As joias, sem dúvida, são lindas. Mas há tanto sofrimento e sujeira nessa história toda, ainda mais ao saber que este acervo, com mais de mil peças, está em poder de uma família branca em Salvador, no Museu Carlos Costa Pinto.
Me pego pensando: como foram parar lá? Quais os caminhos? Para além das dores e de todas as negociações que tivemos de fazer para conseguir estas joias, os caminhos que nos fizeram desfazer-se delas deve ser muito mais dolorido.
Quero acreditar que pode ter sido diferente.
Mas, infelizmente, minha esperança não é assim tão grande como o mar.
Um comentário:
No texto você cita o Museu Afro-Brasil. Qual sua opinião sobre a exposição sobre Marilyn Monroe, atualmente em cartaz no museu?
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